REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
TERÇA-FEIRA, 22 DE ABRIL DE 2014: "DISCRIMINAÇÃO NA CONVENIÊNCIA DE CATEGORIZAR"
Na altura do colonialismo, quando os europeus foram confrontados com as diferenças físicas e culturais dos povos de outras partes do mundo, houve a necessidade de se formular o conceito de ‘raça’. O ser humano tem necessidade de categorizar e, assim, para evitar maiores esforços de racionalização e conseguir administrar territórios ultramarinos com poucos recursos humanos, criaram-se as classificações baseadas na ‘raça’.
De forma mais acentuada a partir da segunda metade do século XX, sobretudo por causa das independências africanas e do afastamento das crenças de inferioridade da negritude, o termo ‘raça’ passou a ser considerado ofensivo; foi sendo abandonado pela comunidade científica. Cunhou-se, então, no seio da Antropologia, o conceito de ‘etnia’ (ainda hoje relativamente valorizado), como se este fosse, de alguma forma, diferente da ideia de raça e justificasse o desaparecimento das acepções do racismo e dadiscriminação.
O termo ‘etnia’ não se afastou das características físicas para suportar a classificação, apenas introduzindo certas ‘orientações culturais’, auxiliando a suportar uma diferenciação entre os diversos grupos étnicos. Através da constatação de que esta terminologia era, no fundo, igualmente preconceituosa, avançaram-se novos conceitos em volta da expressão ‘cultura’. Multiculturalidade e interculturalidade tornaram-se palavras marcantes nos discursos de qualquer ministro cuja pasta estivesse vinculada à igualdade social, ou em retóricas autônomas na área da diversidade. Novamente, olvidando-se que também a ‘cultura’, enquanto característica distintiva, é esteio à xenofobia e ao racismo.
A par disto, o conceito de ‘identidade nacional’ foi se consolidando (ao mesmo tempo que o ‘Estado-nação’ comportava a única forma aceita mundialmente para a organização de povos e territórios), tendo, obviamente, na sua estrutura premissas culturais e semelhanças físicas (por vezes extremamente frágeis).
Para a Antropologia, em geral, questionada a possibilidade de se construir uma identidade nacional não racista, a resposta é negativa.
Então, pergunta-se, qual a opção? Existem seleções viáveis e criteriosas de organização política preferencial ao ‘Estado-nação’? E se as classificações fossem relegadas à inferioridade? Isso poderia trazer algum efeito pernicioso, face a notoriedade da presença da discriminação, resistente a mudança? Neste caso, como, então, atuar para eliminá-la, se abandonadas as concepções através das quais se classifica um comportamento como discriminatório?
Ora, a discriminação (independentemente de ser racial, sexual ou outra) tem sempre o mesmo alicerce, o da conveniência de categorizar; e por este motivo a maior ameaça à igualdade não vem das componentes dos fluxos principais de uma sociedade (o homem, branco, classe média, heterossexual, católico), mas do sentimento alimentado nas próprias classes mais discriminadas, principalmente como efeito da segregação. A pior discriminação não é aquela vinda de fora, mas, por manifesta consequência, a que nasce dentro da comunidade vítima do desprestígio social. E é com essa que se tem, sempre, menos cuidado.
(Caos Markus)
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