A leitura não deve ser entendida como um mero ato de decifrar símbolos. O binômio emissão-recepção da linguagem impera em toda situação de comunicação, pressupondo, além disso, um campo comum de experiências entre um autor e um leitor. A leitura não é, portanto, uma atividade de natureza puramente simbólica, porque os signos interagem com os componentes culturais envolvidos num determinado enunciado, de maneira a conduzirem o leitor à apreensão e à compreensão da escrita. Portanto, o ato de ler não se resume em decodificar, porque, mais além, dele se espera a produção de sentidos, o que torna o princípio da dialogia o fundamento da leitura.
Esse diálogo prossegue durante todo o tempo de contato com a escrita, ampliando a leitura, até o ponto da interpretação superar em muito a mera compreensão e reprodução das idéias, levando o leitor a assumir uma atitude de posicionamento diante da escrita.
Ao se deparar com um texto, o indivíduo com ele estabelece algum tipo de diálogo. Antes mesmo de saber o seu conteúdo, a pessoa já tem alguns indícios sobre o que nele encontrará. Ao manusear um livro, por exemplo, adquire-se muitas informações acerca de seu teor, antes mesmo de iniciada a leitura. De maneira análoga, ao receber uma correspondência, o destinatário reconhece algo de seu conteúdo “pré-denunciado”, logo ao manusear o envelope, por seu formato, pelo tipo de letra, pelo remetente, pelo local onde houve o primeiro contato com ele: uma entrevista, uma reportagem jornalística, uma crônica de futebol, um romance, um poema, uma propaganda, um e-mail etc.
Considerada a complexidade da leitura, e o sem-número de elementos interferentes em sua realização, não se pode estabelecer uma lista fechada de itens que funcionem como um "programa" de leitura eficaz, porém, é possível lembrar alguns procedimentos auxiliares no comportamento crítico diante da escrita: procurar identificar o padrão textual em observação; verificar a ocorrência de variação linguística; e analisá-la segundo os seguintes critérios.
Julgar a adequação do texto à situação na qual ele foi empregado; identificar as relações entre as suas partes indicativas de sua estrutura; reconhecer as estratégias linguísticas utilizadas pelo autor; relacionar o texto à cultura da época da sua produção, comparando-a com a da atualidade; identificar termos cujo aparecimento habitual denuncia um determinado enfoque ao assunto; assinalar expressões remissivas a outro texto; localizar trechos que refletem a opinião do autor; verificar traços de correlação do autor a certos grupos sociais e profissionais ou a correntes ideológicas conhecidas; procurar evidências de onde se possa extrair conclusões não explicitadas no texto; relacionar textos apresentados, confrontando suas características e propriedades; posicionar-se diante do texto lido, dando sua própria opinião.
(Caos Markus)
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