No caminho das palavras, não devemos estar atentos apenas à sua função, isto é, aos significados que exprimem.
Quem possui o interesse desperto e um ouvido apurado consegue uma vez por outra apreender, por detrás da forma e do valor semântico atuais, outros momentos distantes, mais ou menos escondidos, conferindo uma razão àquela forma e àquele valor.
O sinal fônico atualmente indissoluvelmente ligado ao seu significado pela própria necessidade do sistema do qual faz parte, tem nas suas raízes mais profundas um momento criador que é muitas vezes um momento de poesia.
Desse momento emanou a necessidade interior, não natural, mas humana e intencional, ainda ligando significante e significado. Cada sinal é portador do saber e este saber tem quase o caráter de uma hipótese renovável perenemente, baseando-se numa garantia dada pelo consenso universal.
Por isso mesmo, tal fato está relacionado com a evolução da consciência da comunidade a buscar as suas próprias experiências naquele conjunto de saberes.
Em consequência disso, a língua, até na sua estrutura atual, não é mais que uma teia de inovações, de atos criadores, exteriores à nossa consciência, porque o sistema é completo em si e suficiente para preencher as finalidades da expressão.
Mas quem volta a descobrir um desses momentos de criação, que constituíram aquela estrutura, faz emergir da névoa do tempo um elemento da construção encontrado em espaços ascendentes, sobre o qual a humanidade caminha.
O raio ocasionalmente se desprendendo de um fragmento de poucas sílabas é um fio de luz que se estende entre nós e a pré-história.
(Caos Markus)
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