Com exceção, é claro, das disciplinas estritamente metodológicas, todos os saberes que contribuem para a formação dos professores pertencem, originalmente, a um terreno que se distingue da educação escolar. Ciências como a Sociologia e a Antropologia, por exemplo, possuem esferas próprias de estudo e reflexão, como é sabido, mas esperam-se delas contribuições para esclarecer problemas do âmbito educacional. Assim como se recorre à Filosofia para deslindar a tradição do pensamento ocidental, de modo a elucidar os fundamentos da prática pedagógica, almeja-se que sociólogos e historiadores, ao analisarem como as instituições sociais funcionam e se transformam ao longo das épocas, possam auxiliar no posicionamento da escola na sociedade e no planejamento de seu futuro. A meta principal, pois, é buscar entender como se dá a transposição dos conhecimentos de um determinado corpo científico para os limites da sala de aula, o fazendo através de paradigmas. E neste sentido, há que se entender a característica essencial de um 'paradigma', qual seja, ele contem realizações científicas reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica, proporcionando os fundamentos para sua prática posterior.
Quando a Pedagogia tenta apossar-se dos conhecimentos científicos da Psicologia, pode fazê-lo sob a égide de orientações pedagógicas as mais diversas. Consequentemente, torna-se muito difícil, arriscado e, em alguns casos, leviano, vincular uma vertente do pensamento educacional a conceitos extraídos de uma teoria psicológica, como se algum saber desta área fosse responsável exclusivo pelas práticas contidas naquele.
O ofício de ensinar, no entanto, é aprendido em contexto totalmente diverso. Embora as ciências da educação estejam presentes na formação pedagógica, não há qualquer exigência de que o professor venha a tomar atitudes condizentes com este ou aquele paradigma científico dentro da sala de aula. A não ser excepcionalmente, não há qualquer semelhança entre os laços que unem o pesquisador aos seus pares, de um lado, e os vínculos que ligam o professor aos seus, de outro. Incoerências metodológicas, ecletismo e falta de solidez teórica são "defeitos" somente detectados quando o professor encontra-se submetido à análise crítica de seus gerenciadores científicos, dentre os quais incluem-se os cientistas incumbidos de avaliar o ensino com o intuito de contribuir para seu melhor funcionamento.
Os princípios integradores dessa pedagogia, embora possam apresentar-se discrepantes no campo de sua produção original (vale dizer, no campo em que foram produzidos enquanto 'paradigmas') servem para consagrar outros princípios, desta feita aqueles definidos pela visão elaborada pelos educadores quanto às finalidades educacionais. Assinala-se, qualquer proposta curricular comporta sempre um projeto social e cultural, uma visão do tipo de sociedade e de pessoa que se pretende promover com a escola.
Nessa perspectiva, deve-se romper os limites tradicionalmente estabelecidos entre os paradigmas psicológicos e suas aplicações à educação escolar , a fim de assimilar contribuições as mais variadas, todas elas dirigidas para a composição de uma proposta de currículo, o elemento decisivo da prática pedagógica.
(Caos Markus)
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