A música, em princípio, é a arte das Musas, ou seja, é toda a atividade inspirada em uma das Musas. Estas, entidades da mitologia, são dotadas de extraordinariedade, muitas vezes superiores aos deuses, com cujo poder podem conceder aos homens a revelação de verdades e iluminações que, sozinhos, talvez jamais alcançariam.
É justo então pensar que o universo das relações sonoras e rítmicas ao qual chamamos 'música' não é aquele exclusivo de suas influências. Pois, muito embora as atividades musicais "sonoras" estivessem no terreno sob o domínio das Musas, outras atividades aí podiam ser incluídas.
Essas atividades já receberam denominações
diversificadas: 'artes' ("technai", para os gregos), 'atividades artísticas' e 'técnicas'. No entanto, a própria filosofia foi referida como o exercício da "mais nobre música", em virtude de as Musas inspirarem todas a especializações, não se limitando a atividades específicas e determinadas.
Por outro lado, é preciso lembrar que as Musas são todas filhas de Mnême, a 'Memória'. E este é um sinal de novo encontro da filosofia com a música, em sentido amplo, pois o saber filosófico implica em uma atividade onde a memória tem papel central. É por seu intermédio que a alma (a psique) está capacitada a sair da ignorância e se aperfeiçoar.
O desejo de aprender, hoje por nós muitas vezes conhecido como 'curiosidade', era chamado de 'amor', sendo o efeito inicial da memória em todos nós, a nostalgia do conhecimento perdido.
Assim, esse amor se confunde com a nossa noção de desejo, mas não de um desejo insatisfeito.Trata-se de desejo que insiste no prazer da busca incessante, sempre renovado; e, por isso, eterno.
(Caos Markus)
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