Salvação e libertação apresentam diferenças entre si, como também pecado e crime são entendidos de maneiras diversas. E ainda sugestiva é a distinção das concepções 'alma' e 'espírito'. Por isso, muito do que se ensina sobre um outro reino, além deste mundo por nós conhecido, busca divulgar a crença no sofrimento da humanidade, ou a convicção no padecer dos miseráveis e na irreversibilidade da condição dos marginalizados; tudo em função de um incerto destino redentor. Assim, pelo 'pecado' deveríamos esperar a 'salvação'; pelo 'crime', a 'liberdade'. Mas... Por que?
O castigo e a punição seriam respostas indispensáveis a todos os inconformados? Ou tais ideias servem mesmo para limitação dos indivíduos em suas reais aspirações? Afinal, vocação maior do ser humano, a libertação é um processo envolvendo-o em 'corpo', 'alma' e 'espírito'. E como precisa alimentar o corpo, igualmente dependem de alimento a sua 'alma' e o seu 'espírito'.
Por acreditarmos na conjugação do homem reunidas as suas três esferas, unificadas as partes que o compõem, defendemos a efetiva participação política -individual e coletiva- nos destinos dos nossos governos, rompendo com o falso dogma de predestinação à pobreza material, desvinculada da emancipação da sociedade.
É por inabalável crença na libertação do ser humano por meio da mobilização popular (identificada na máxima de que a "salvação implica a totalidade do mundo de Deus"); é pela irrecusável certeza de que "fomos criados exatamente para isso, receber a vida de Deus em nosso espírito, viver esta vida e expressar o próprio Deus em nosso viver"; é ainda na admissão de que "totalidade não significa uma grandeza fechada em si mesma, mas uma relação da realidade que se funda em Deus como o sentido pleno e a radical plenitude do ser"; é por concordância absoluta com essas lições doutrinárias da Igreja que, ateus, propugnamos ao humano ser sua efetiva integridade. Algo somente conquistado na perseverança de quem deva almejar um mundo melhor neste plano que, pela mais adequada interpretação dos axiomas eclesiais, então é também de Deus, posto que obra do Criador.
Desejando, pois, o triunfo dos "homens de boa vontade", na vitória da solidariedade sobre o egocentrismo; eis a conclamação, a companheiros e companheiras "conduzidos por Deus em seu desígnio": resgatar a nossa humanidade "numa completa libertação de todas as alienações", voltada ao porvir marcado pela justiça, sob o signo da união dos povos pela liberdade.
(Caos Markus)
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