Existem, de início, duas dificuldades para se conceituar 'opinião pública'. A primeira é que esta expressão faz parte da família dos conceitos de 'teoria política', dificilmente aceitos de forma generalizada, pois, igualmente na discussão sobre 'democracia', 'partido político' ou 'separação de poderes', por exemplo, há notórias divergências. Assim, o conceito de 'opinião pública' tem essa mesma característica: a de suscitar discussões e polêmicas.
Dependendo da ênfase atribuída a um ou a outro aspecto do fenômeno (influência efetiva, elite melhor informada, opinião racionalmente formada etc., etc.), a perspectiva vai se alterando, e as definições adquirem diferentes contornos. Há também outra dificuldade: a própria expressão 'opinião pública' está bastante popularizada; e, de modo geral, as pessoas fazem uso do termo no dia-a-dia. Presidentes, governadores, deputados, jornalistas, professores, estudantes, empresários, líderes classistas, todos já possuem "noção" do seu significado. Portanto, qualquer pretendida mais acertada conceituação, restringirá a amplitude cotidianamente conferida à ideia de 'opinião pública', podendo ser entendida como radicalismo a utilização do termo desprovido do rigor conceitual.
Por efeito, muitos analistas preferem compreendê-la como o resultado verificado nas 'pesquisas', ou seja, só estará sintonizado à 'opinião pública' quem agir de acordo com o demonstrado pelas 'pesquisas'.
Há ainda quem nela veja o sinônimo de 'moral', 'cultura', ou mesmo 'sociedade'.
Considerando o início do desenvolvimento das 'pesquisas' a partir da década de 30, no século passado, nos E.U.A., elas seriam então posteriores à ideia de 'opinião pública', esta já muito antes observada em escritos clássicos do século XVIII.
A identidade da 'opinião pública' com a 'pesquisa' é relacionada à 'teoria da democracia', mais especificamente à concepção da 'igualdade' supostamente presente nas disputas eleitorais.
Em uma eleição, cada voto vale exatamente a mesma coisa, independentemente de o eleitor ser rico, instruído e sofisticado, ou pobre, ignorante e rústico. Nesse sentido, a 'opinião pública' seria mera somatória do conjunto de opiniões individuais. Há, todavia, críticas à identificação baseada na correlação 'opinião pública/resultados de pesquisas'. A de maior destaque assevera que a 'pesquisa' coloca artificialmente em posição de igualdade 'opiniões' qualitativamente diferentes.
Assim como todos são iguais na hora de votar(uma das bases normativas da democracia), de forma análoga, uma pesquisa sobre um assunto qualquer coloca no mesmo plano a avaliação de um especialista e a impressão genérica de um indivíduo pouco escolarizado, (muitas vezes respondendo às perguntas sem conhecimento do tema).
Os defensores da 'pesquisa', considerando-a legítimo retrato da 'opinião pública', rebatem, afirmando que 'opinião pública' é diferente de 'conhecimento'; é aquilo que as pessoas "pensam" acerca de algo ou sobre alguém.
Sob a ótica psicológica, a 'opinião' está mais próxima das crenças do que das atitudes absolutamente racionais (as baseadas em amplas informações) a respeito do tema objeto da 'pesquisa'.
Afinal, não por outro motivo, já se disse que a 'opinião' está situada a meio caminho entre a ignorância e o saber.
(Caos Markus)
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