O termo 'deserção' contém, de maneira implícita, uma carga significativa que, pela indução, faz supor a responsabilidade exclusiva e voluntária do sujeito por abandonar um grupo ou sistema ao qual pertence. No caso do sistema educacional, é lícito questionar se não é ele, o ensino institucional, quem de fato relega ao desamparo o "desertor", exatamente no momento em que não possui estratégias para conservá-lo e, muito menos, interesse em reintegrá-lo. Também pertinente indagar se essa "deserção" obedece a uma atitude individual, isolada, ou com ela coincidem indivíduos co-partícipes de circunstâncias econômico-sociais a dificultar sua permanência nesse sistema, ante as regras de todo o conjunto, isto é, a Educação inserida e estruturada num modelo restritivo de estratificação.
Com certeza, a mal denominada deserção escolar é sim um problema de dimensões sociais, e não mera consequência de vontades individuais. A "deserção", por efeito, é o fruto podre da seleção social presente no sistema educacional. Não há, pois, que se falar em abandono ou evasão escolar, porém (com formidável evidência), de expulsão encoberta.
(Caos Markus)
Nenhum comentário:
Postar um comentário