REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
TERÇA-FEIRA, 12 DE JANEIRO DE 2010: "OTIMISMO"
Sou um crente por excelência. Minha fé cega não remove montanhas mas - e estou convencido disso - leva-me até elas. Sempre acreditei nos políticos, nunca, nem por um minuto, eu desabonei um projeto governamental, por menor ou por maior que ele fosse. Afinal, num país tão grande, assim imenso, de proporções continentais, não há como fazer milagres. Ainda assim, eu creio neles, muito embora eu não confunda patriotismo com fervor; este último, é ele o meu guia, movido por ele sou brasileiro “profissão esperança”. Quando todos, absolutamente todos, gritaram “fora Collor”, eu apenas murmurei: dá mais uma chance, ele tem uma carinha boa. Fazer o que... Democraticamente, derrubaram o Presidente, e eu me resignei, pois que democracia faz parte do meu credo. Nessa época, centenas de milhares de milhões de patrícios meus, do Oiapoque ao Chuí, por unanimidade suprapartidária, optaram pelo restabelecimento do meu país, depositando - assim como eu - nas mãos do Congresso Nacional a árdua tarefa de intermediar junto aos deuses do Olimpo a salvação da Pátria idolatrada. Aceitaram e eu também - um Presidente-vice, porque o mesmo espírito anima a todos nós, nordestinos e sulistas, o espírito da redenção definitiva, que resgatará das trevas todos os benfeitores da humanidade, no caso nós mesmos.
Ah! Como eu creio. Creio em todas as possibilidades da economia nacional, resplandecente potência esse Brasil.
“Brasil, ame-o ou deixe-o”. Ninguém deixou; o amor venceu (aliás, sempre vence). “Diretas já”, e o que se viu? A multidão agradecida - assim como eu - jamais duvidou, sempre soube que tudo era uma questão de tempo... E de fé, muita fé. Pois, se a montanha não vem até Maomé, a Transamazônica desbravou a grande floresta e a Ferrovia do Aço foi até Carajás.
Pêro Vaz de Caminha, assim como eu, também era um apóstolo da fé. E ele - profeta que era - anunciara a farta vida que hoje todos desfrutamos. Aqui em se plantando tudo deu; até canabis-sativa, aos montes. Droga! Não fossem uns poucos pés-de-chinelo a incomodarem a polícia com granadas e metralhadoras, e eu até diria que vivemos no Paraíso. Não faz mal, minha fé é inabalável, inquebrantável. Sou cem por cento amor, o que faz de mim paciente com os pequenos erros de todos os nossos grandes - enormes! - governantes.
Aos domingos, em meio à suculenta macarronada, assisto às vídeo-cassetadas num televisor e aguardo, como muita fé, o sorteio do tele-sena, num outro aparelho. Não posso desanimar com tanta animação a minha volta. À noitinha, eu vejo os gols do formidável Fantástico, e mais certeza eu tenho de que os brasileiros são mesmo bons de bola, não importa o tamanho dela.
Como eu sou feliz!
Segunda-feira é a primeira conta do meu rosário, no terço que rezo em sete dias. Pago a promessa que fiz quando pequenino: ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil.
Como eu sou feliz!
Meus filhos estudam em Escola Pública, são atendidos em hospitais públicos, passeiam em praças públicas... E eu me sinto um milionário, pois, afinal, tudo é pago com os impostos que pago. A ordem e progresso positivistas de Comte tremulam no pavilhão da minha esperança.
Sou cliente especial e a minha fila no banco é indiana e não serpentina; voto em plebiscito e, quem sabe, até em referendo; tenho duas profissões, sinal de que sou inteligente e capaz, não me faltando, nunca, oportunidades de trabalho. Na minha terra tem palmeira e sabiá, tem coqueiro que dá côco; tem até excedente de produção agrícola que exportamos para não jogar fora. Nada disso bastaria, não fosse a minha fé.
Por nada me faltar que não seja necessário, pensei num singelo pedido, desses pedidos que só se faz quando não se precisa de mais nada:
Eu quero ir embora daqui!
(Marcus Moreira Machado)
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