Não se deve compreender o Existencialismo como simples escola de pensamento, distante de qualquer e toda forma de fé. Sabe-se que muitos dos existencialistas eram, de fato, religiosos. Pascal e Kierkegaard foram cristãos dedicados. O primeiro era católico; o segundo, um protestante radical, defensor dos ensinamentos de Lutero. Dostoiévski, greco-ortodoxo greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu. Sartre não acreditava mesmo em força divina. Ele foi criado com religião, mas a II Guerra Mundial e o constante sofrimento no mundo levaram-no para longe da fé. Curiosamente, Sartre passou seus últimos anos de vida em companhia de um judeu ortodoxo, pesquisando temas relacionados a fé. Somente é possível imaginar suas conversas, pois que delas não houve registro.
Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia as decisões com um conjunto rigoroso de regras.
Para os ateus, a ironia é a de que não importa o quanto se faça para melhorar a si ou aos outros, pois inevitáveis são a deterioração e a morte.
Para a maioria dos existencialistas a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Em suma, o indivíduo vive uma vida miserável, pela qual ele pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a complexidade do pensamento existencialista.
"O homem é condenado a ser livre". Esta afirmação denota o peso da responsabilidade de sermos livres. Frente a essa liberdade, o ser humano se angustia porque a liberdade implica em escolha, que só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós paralisamos e, assim, achamos que não fomos obrigados a escolher. Mas a "não ação", por si só, já é uma escolha.
A escolha de adiar a existência, adiando os riscos para não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea.
Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.
Os existencialistas indagam sobre a existência de um Criador. Se positiva a resposta, qual a relação entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-definidas e os homens têm que se adaptar a elas?
Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são alguns dos que mais contribuiram para o Existencialismo. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma questão: o que limita a ação de um indivíduo?
Kierkegaard chegou à possibilidade de que o cristianismo e a fé em geral são irracionais, argumentando que provar a existência de uma única e suprema entidade é uma atividade inútil. Ele acreditou que o mais importante teste de um homem era seu compromisso com a fé apesar do absurdo dessa fé.
Nietzsche, freqüentemente caracterizado como ateu, foi sobretudo um crítico da religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião organizada, especialmente a Igreja Católica, era contra qualquer 'poder' de ganho ou auto-confiança desautorizado instituição clerical. O niilista Nietzsche usou o termo 'rebanho' para identificar a população que segue, de boa vontade, a Igreja. Ele argumentou que provar a existência de um criador não era possível nem importante.
O Existencialismo representa a vida como uma série de lutas, onde o indivíduo é forçado a tomar decisões; e, não raro, qualquer escolha é uma escolha ruim.
Nas obras de alguns pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da miséria.
A maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas teológicos e cristãos. Com o livre arbítrio à criatura, o criador estaria punindo a espécie humana da pior maneira possível.
As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de limitar suas próprias escolhas. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela deveria ser.
Assim, os existencialistas explicariam, por exemplo, porque algumas pessoas se sentem atraídas pelas carreiras militares: baseiam-se no desafio de tomar decisões.
Seguir ordens é fácil, requer pouco esforço emocional fazer o que lhe mandam. Se a ordem não é lógica, não é o soldado que deve questionar. Desse modo, as guerras podem ser explicadas e genocídios podem ser entendidos.
Afinal, os 'obedientes' estariam apenas fazendo o que lhes foi ordenando.
(Marcus Moreira Machado)
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