Sem dúvida o Brasil parece consigo mesmo. No jogo de faz-de-conta, nós encontramos alguma 'vantagem' na lambujem, e os governantes fingem não ver, lucrando muito mais por deixar de investir e administrar, concedendo ao seu parceiro-perdedor um proveito aparentemente significativo, mas de nenhum valor de fato.
Eu custo a acreditar que o engodo foi aceito, que a malícia elegeu a velhacaria como hino pátrio da barafunda nacional. E só posso crer, então, na premissa de que cada governo tem o povo que precisa, muito mais do que a linguagem corrompida de que "cada povo tem o governo que merece". Ininteligível, o nosso idioma se forja na cupidez, em discurso desarrazoado de homens insanos!
No arrabalde da civilização, a nossa megalomania é a nossa única grandeza, vendida como guloseima "três por dois" na maria-fumaça das marias-vão-com-as-outras da nação suburbana. Paus-brasis e paus-de-arara, manchamos todos de vermelho-brasa a honra nacional, sem pejo algum, em ausência total de rubor, na falta de vergonha característica de tantos quantos acendem uma vela para Deus e outra para o diabo.
O meu país é um 'trem', é teréns que se joga em cima de caminhão-palanque em 'mudanças' de fim-de-semana, com direito a cachorro latindo e criança chorando. O meu país não precisa de catraca, porque os usuários passam por cima sempre que estão por baixo, sempre que estão de fora. E sempre estão. O meu país é 'trem-fantasma' de um povo que não faz assim tanta conta das espectrais contas emigrantes para os paraísos das ilhas fiscais. Esse play-center não cobra ingresso nem na montanha russa da nossa sobrevivência nem na roleta russa da nossa consciência. E, por isso achamos muita graça, imaginando que tudo é de graça.
Afinal, no subúrbio do inconsciente coletivo temos como herança essa forma troglodita de existir, vivendo nas cavernas, nos porões e nos vagões da barbárie!
A única resposta que obtenho é sempre a minha mesma: não sei se moro num sub país tropical ou se o sul do meu Equador é mais do norte. Embora a minha bússola esteja desnorteada, ainda me restam as estrelas como guia, as mesmas que serviram aos astronautas extasiados enxergando da Lua o azul da Terra. E eu aqui da Terra ainda vejo São Jorge matando o dragão da maldade contra o santo guerreiro glauberiano. Invento que perdi o cordão umbilical da nave mãe, perco a gravidade na ilha perdida da minha fantasia e viajo de teleférico sem cobrador pelos planetas que imaginei para o meu Brasil, com muito mais de vinte e sete estrelas-satélites do pavilhão pátrio. A minha suburbana também não conhece estações.
(Marcus Moreira Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário