No Brasil, compreendida a "crise" como provisória circunstância, ela é, de fato, o reflexo imediato da "má administração do desenvolvimento e da mudança".
O país, agora um simples espectador da sofisticada tecnologia estrangeira, ainda não alcançou a fundamental "liderança técnica" que, a despeito da superação da "crise", possa garantir-lhe a "competência " como defesa às imprevisões futuras. Nesse aspecto, o Japão soube "copiar" a tecnologia norte-americana, adquirindo-a, sistematicamente, através de sucessivos "contratos de licenciamento", privilegiando-os sobre os investimentos estrangeiros.
É de compreender-se que a formação de estoques de capitais é uma "decisão humana" específica, comportando a aquisição do conhecimento como base do processo. Porém, sem o aprimoramento das "estruturas internas políticas e econômicas", não há que se falar em conversão dos recursos em melhor economia e mais organizada sociedade, pois que a criação da riqueza provém de anterior difusão do conhecimento, a partir do restabelecimento das instituições criadoras dessa mesma riqueza.
Modernamente, contrariando o período inicial da exportação do capital, em que o financiamento se operava pelos recursos exportados do país investidor, a mobilização desses recursos é feita no próprio mercado do investimento, diminuindo substancialmente as transferências de capital do país originariamente investidor. Obviamente, a "complementação" se faz pela participação financeira governamental e dos bancos de investimentos.
Colaborando, também, com a escassez dos estoques de capitais, os subsídios aos bens importados, indiretamente, através da isenção de impostos, repercutem na economia nacional, depauperando-a ainda mais, posto que, aumentando a competividade do produto estrangeiro, leva o país à ociosidade e ao desemprego, em verdadeira discriminação contra a indústria nacional. E, mesmo que o mecanismo adotado seja a redução das alíquotas de importação, diminuída a produtividade interna, subtrai-se a capacidade das reservas cambiais.
Ora, se existir de fato a pretensão de erradicar-se a inflação, sem o receio de conseqüente recessão, há que se promover, seja qual for o governo, reformas estruturais capazes de intervir definitivamente para a aquisição de "Know-how", impedindo-se o monopólio da pesquisa que determina a “transferência" de tecnologia apenas pelo pagamento de "royalties".
A má administração do desenvolvimento e da mudança, mais uma vez é a responsável pelo longo período de transmissão denominado "crise", considerando-se aqui não a impossibilidade e sim a falta de decisão humana ou, mais apropriadamente, a ausência de vontade política.
Coniventes ou não, os governos de países subdesenvolvidos têm permitido que esses se tornem "plataformas de exportação", expressão utilizada por Celso Furtado para explicar a estratégia dos países desenvolvidos que, procurando se instalar em áreas onde os salários são baixíssimos, empreendem a reconquista do mercado interno a partir do corte do custos de produção. Proclamar severo combate aos oligopólios sem observar a natureza da concorrência oligopolista, será sempre discurso sem conteúdo, desatento ao modo como as grandes empresas, através dos "holdings", procuram expandir-se pelas nações pobres. Diversamente, o incentivo fiscal e tributário às pequenas empresas é forjar a imprescindível "identidade econômica" de que precisa não apenas o Brasil, mas todos os países hoje dependentes das nações economicamente desenvolvidas.
A contradição que se verifica nas nações do mundo subdesenvolvido, coexistindo, lado a lado, abundância de matérias-primas, poderosa força de trabalho, e a extrema pobreza traduzida pala mendicância e prostituição, é, deveras surpreendente. Mas, identificados os males, cabe reconhecer as suas causas; não há cabimento, no caso, para o fatalismo que apregoa total carência de infra-estruturas que permitam o desenvolvimento gerador de riquezas, pois essa condição de prosperidade não nasce por si só, antes depende das decisões governamentais específicas, no sentido de preparar um futuro.
Mais outra vez cumpre notar que o elemento fundamental desse processo de emancipação é o "conhecimento", não o transferido, mas sim o adquirido.
O futuro, dessa maneira interpretado, não será obra do acaso, porém o desdobramento planejado passado que o previu. (Marcus Moreira Machado)
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