Ao pretender um pragmatismo como dever de ofício no combate à miséria, intitulando-se docente em causas humanas, a Igreja resvalou para um terreno que já fora de seu domínio, isso nos primórdios, de sua instituição - o político, dosando a temporalidade com os desígnios do próprio homem. Mas, quando foi posta à prova, por um Leonardo Boff, por exemplo, não soube mais delimitar o seu território, condenando o ex-frei a um ano de silêncio por ter publicado a sua magistral obra "Igreja, Carisma e Poder". O autor, magnífico, um profundo teólogo, ao reconhecer a fé muito além da Instituição, foi como que banido, modificando, no entanto, as regras de uma prática muitas vezes oportunista daquela que se diz representante exclusiva da humanidade.
Dom Helder Câmara, o notório Arcebispo de Olinda e Recife, em sua "Invocação à Mariama", acautelava-se, por volta de 1982, talvez desnecessariamente, de eventual repressão da classe dominante (assim por ele entendida) aos reclamos mediados pelas pastorais, e, alertando para o estigma de "política, subversão, e consumismo" de que a Igreja seria a vítima, lamentava "todos os absurdos contra a humanidade", "todas as injustiças e opressões". Mais uma vez o Evangelho de Cristo era colocado como arma poderosa na "denúncia contra os poderosos", tendo o problema da fome como estandarte.
Antes, muito antes, nos idos dos cinqüenta, um dramaturgo, um genial dramaturgo, nem inclinado à esquerda nem simpático à direita política, simplesmente um liberal de grandeza incontestável, autor que, à maneira de Gregório de Matos, não admitia a pouca inteligência, viesse ela de onde viesse, bem antes teve Nélson Rodrigues a ousadia de tomar público o seu desprezo pelo que denominou "padre de passeata", antevendo, talvez, a manipulação da "fome" como pretexto outro que não propriamente manifestação da fé. Quem sabe, esse sim um pecado inconfessável!(Marcus Moreira Machado)
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