Propaga-se entre nós brasileiros a confusão gerada pelo excesso de verdades. Todos têm o monopólio das certezas incontestes sobre o que julgam ser a sofismável mentira dos seus opositores. Padecendo de um mínimo pragmatismo a conferir veracidade aos múltiplos conceitos estruturados em supostas ideologias, observa-se pelo país afora a difusão de exclusivismo de todo afastados de necessária praticidade. Á respeito, Carlos Eduardo Guimarães, comentando a obra do existencialista Albert Camus, observou: "A verdade é comprovada sua capacidade de realização".
Exatamente o contrário dessa concepção filosófica é a constatação da incipiente política nacional, quando a multiplicidade de interpretações despreza a importância da efetiva transformação. A retórica populista substitui entre nós a praxis inovadora. E, dessa forma, a verdade, de tão relativa, assume caráter de instrumento de manipulação, desconsiderando a seu respeito o conselho de Jorge Luis Borges, poeta e intelectual argentino, quando adverte: "Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes". No Brasil, mente-se por minuto, mas quer-se fazer acreditar em tudo o tempo, em "ilusionismos" típicos dos nigromantes. A pluralidade de partidos oferta não a garantia de participação e sim a certeza de alienação.
O que se nos parece é que o desvario político procura na incoerência afastar daquele processo tão bem definitivo por Gerard Lebrun, quando "a imaginação não é um delírio permanente e merece mais do que ser deixada por conta de uma patologia do erro ou de uma psicologia de associação". Exatamente o oposto, o erro está incorporado ao nosso imaginário, nele encontrado absurdas referências para esquivar-se de um maior comprometimento com a realidade possível. Sendo "o esquecimento uma das formas da memória, o seu porão, a outra cara secreta da moeda", a intelectualidade das elites políticas do país apostam em que o "porão" da nossa história deva ser sobrecarregado, considerando-o o melhor lugar para sepultar as idéias mais genuínas. Assim, perde-se qualquer elo de ligação entre passado, presente e futuro, pois que não se percebe que "quando um estado intelectual foi acompanhado por um sentimento vivo, um estado semelhante ou análogo tende a suscitar o mesmo sentimento… e quando estados intelectuais coexistiram, o sentimento ligado ao estado inicial, se é vivo tende a se transferir para outros".(Marcus Moreira Machado)
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