O homem contemporâneo sofre, tragado pelo impacto da multiplicidade de alternativas em um processo consumista.
Sob a pressão subliminar de ideologias várias, que insistem em se fazer parecer distintas umas das outras, as sociedades buscam atingir, passo a passo, a sofisticação tecnológica, concluindo - todas elas - com a supressão da liberdade do seu único imprescindível componente - o “pensar”. E é o pensamento uma atividade do espírito, a subsidiar a capacidade de compreensão; compreender é, por sua vez, promover reconciliação entre o homem - um estrangeiro - e este mundo onde ele vive. Assim, “uma vida não compreendida não é uma vida plenamente vivida”.
O que se observa, no entanto, é a presença constante de nomes, sempre indicando tendências e qualificações: o perfeito caminho da iconolatria; o exato instantâneo da idiotice institucionalizada; a hora e a vez dos “cretinos fundamentais”.
Como adverte Saul Bellow, em “O Planeta do Sr. Sammler”, “é preciso ser um verdadeiro maníaco para insistir em querer ter razão. Ter razão é, afinal, apenas uma mera questão de explicações”.
Mas, a “razão” não é um princípio recente. E, somaticamente, o “homo-sapiens” quer resistir, embora já bastante fragilizado; transfigura-se, então. E agora, novamente e apenas “homo-erectus”, sofre dores primitivas num cenário moderno.
Submisso, não compreende o homem contemporâneo a relatividade dos conceitos emblemáticos. Curva-se à verdade.
E o que é a verdade? exclama Nietzsche, senão “um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são...”
De fato, hoje o homem intelectual tornou-se uma criatura dada a explicações. Somente por isso, a conscientização das massas populares é pura mistificação, porque impede o despertar da consciência individual. Não por outro motivo, é preciso dispensar a política um tratamento tal que ela não venha a prejudicar a vida do espírito, pois a pluralidade - pressuposto a ser assumido de forma resumida pela imaginação no diálogo do pensamento - vem sendo ameaçada desde o início da modernidade, como bem esclarece Hannah Arendt.
Pois, como jamais houve na história da humanidade uma revolução consentida, não haverá libertação que não seja uma consequência do questionamento filosófico da condição humana.
O Homem libertar-se-á quando disser não ao “sim” a que foi adestrado repetir sistematicamente; quando, enfim, pensar ao invés de idolatrar. No diálogo do pensamento está a gênese do amor. O amor, anárquico que é, rompe todas e quaisquer imposições que teimam em circunscrever os sentimentos nos limites da indução.(Marcus Moreira Machado)
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