Houve um tempo (e não faz tanto tempo assim) em que não se falava de neoliberalismo nem de ecologicamente correto ou aparthaid social, ou de jazz sinfônico para a plebe caiçara. Houve outra época em que as estações eram melhor definidas, com calor no verão e frio no inverno, e sem represa inundando florestas e nem sequer conhecimento de uma camada de ozônio, ou muito menos de um perigo no desequilíbrio do ecosistema em virtude de nefasta interferência do homem nos desígnos da mãe natureza. Noutras décadas, de eras não tão priscas assim, existiram duas especies de pessoas somente - as que estavam de um lado e as que não estavam desse, mas sim daquele outro; ou melhor, dois comportamentos se verificaram, então: os que falavam e os que faziam calar a boca. Como uns falavam e o que falavam é uma outra história, como e porque alguns, não poucos, faziam calar a boca dos primeiros, não é uma outra história diferente em razões e falta de razões.
De lá para cá, anarquistas e ateus tornaram-se governantes e ministros da eucaristia, as favelas e o tráfico de entorpecentes ocuparam maior destaque na mídia que, por sua vez, de rabo preso com o leitor porque sem ele não dá para não justificar, invadiu a privacidade e o anonimato da cidadania, inventando que ninguém a tinha e, por isso memo, imbuindo-se do mister de suscitar aprovação ou desaprovação para assuntos variados no tema, na necessidade, na.verdade ou na falta dela, sempre comprovando pela deusa-estatística que o povo sabe o que quer, ainda que nem tivesse ele jamais pensando em dividir com o próximo algo além da comum alienação. Enfim, parece que houve um outro tempo, parece que agora chove torrencialmente do deserto do Saara, e ininterruptamente neva na selva amazônica. Parece, enfim, que hoje só existem duas espécies de pessoas, as que falam e as que, mesmo não gostando do que ouvem, no mínimo suportam a hora e a vez dos que têm algo a dizer.(Marcus Moreira Machado)
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