A finalidade do estudo, de suma importância, suscita uma 'ética do estudo'. Infelizmente, todavia, é maioria o número de estudantes a frequentarem aulas apenas com preocupação exclusiva de obter um certificado que os habilite a um 'negócio profissional'. Sacrificam tempo e dinheiro no objetivo de alcançar um ulterior benefício econômico, e nada mais. São os escravos da tirania do dinheiro, que estudam para 'negociar', em vez de se dedicarem ao ócio. Pois o ócio, já entre os gregos da antiguidade, era a atividade espiritual mais pura então conhecida, consagrada à contemplação e ao estudo dos maiores enigmas filosóficos. Por outro lado, empregavam a palavra "nec-ocio" ("na-ócio" ou 'negócio') para designar as atividades diretamente lucrativas, por eles consideradas praticamente desprezíveis.
A nossa civilização perverteu o sentido destes termos de modo a verificar-se uma inversão do seu valor. E por isso hoje entende-se o 'negócio' superior ao ócio, tanto mais quanto este último é compreendido como 'defeito moral' de uma vida parasitária, ao invéz de ser considerado como cristalina meditação na busca de vivências mais dignas.
Ora, o tempo não deve ser avaliado como ouro, mas como saber, isto é, enquanto cultura. Cultura que, por seu turno, não deve ser posta a serviço de interesses mesquinhos, e sim cultivada para a humanidade, que dela se beneficiará, tornando os homens dignos de si próprios.
O interesse da riqueza há que ser subordinado, sempre, ao interesse da verdade. Ou, noutras palavras, o conhecimento, primeiro, para o prazer; e depois, mais tarde, como instrumento útil ao trabalho. O saber em proveito da sociedade; admissível o 'negócio' lícito tão somente na medida em que assegure os meios à atividade do 'ócio' cultural, a verdadeira fonte da aspiração vital. O 'ócio' com o qual se produzirá um valor estético ou científico, jurídico ou religioso, social ou mesmo econômico, porém em seu estado original.
Esta é a maneira única na capacitação do ser humano contra a dominação pela vileza das 'paixões' que envenenam as rivalidades profissionais, notadamente no mundo globalizado atual, onde 'competividade' ganhou status de 'superioridade'. Só assim a paz estará em cada um dos dignos habitantes da provisoriedade temporal.(Marcus Moreira Machado)
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