Toda vida individual pressupõe constante processo de adaptação entre os desejos e ambições pessoais e as dificuldades externas opostas à sua realização. Enquanto essas limitações são impostas concretamente por pessoas determinadas, o indivíduo se limita a uma certa antipatia contra elas, responsabilizando-as por suas decepções e fracassos. Entretanto, quando tais pessoas se acham ligadas por uma característica social comum; e a este conjunto o indivíduo atribui repetidas agressões ao seu horizonte psíquico, tendendo a refletir e a generalizar os esquemas de motivação de suas próprias atitudes, transcendendo a proximidade pessoal e alcançando planos mais amplos de instituições e estruturas sociais ; é então que este indivíduo encontra condições favoráveis à existência de sua atitude primária -a hostilidade contra a ordem vigente.
Daí, a conduta personalíssima não será mais a de uma reação contra este ou aquele oponente por serem como são. Mas, em evidente inversão, o indivíduo passa a considerá-los assim por integrarem uma determinda organização social. E não raro, dessa conduta de insatisfação pessoal nasce uma posição supostamente revolucionária. Não haverá demora, num passo adiante, para a arregimentação de outros tantos indivíduos insatisfeitos; e todos "juntos", cuidarão de elaborar qualquer desavisado esquema utópico de outra organização social, desde que dirigida ao atendimento de suas exclusividades, jamais confessadas, pois justificadas em nome do coletivo. O mesmo coletivo, porém, contra o qual o indivíduo se insurgiu.(Marcus Moreira Machado)
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