Hoje, eu acordei com vontade de só falar abobrinhas. Eu sei que o seu ouvido não é penico, mas, desde que -paixão nacional!- a corrupção foi adotada como modalidade esportiva preferida de brasileiros, desligar o ventilador não é hábito frequente. E como aqui tudo é efemérides, nada mais proveitoso que tentar identificar as cores pátrias no genuíno mimetismo da preservação da espécie nativa; quer dizer, disso que inadvertidamente entendemos por 'povo'.
Veja só se não tenho razão. Nos bares e nas padarias, em praças e em clubes, sempre onde haja, enfim, mais de uma pessoa, o assunto é sempre o mesmo, a mania não muda. É quase um cacoete (ou, será, uma catarse coletiva!?): falar, achar isso e aquilo, bradar, protestar, admitir, negar, palpitar, sugerir sobre tudo o quanto não foi, quanto não é, ou quanto ainda será um grande, um inédito e pomposo escândalo -no Planalto, na planície, no Palácio... E tome CPI! Aliás, CPI já virou logomarca, rótulo; não é mais que mera sigla.Você já percebeu como a moda de todas as estações é denunciar? Denunciar o presidente, o governador, o deputado, o vereador, o procurador; denunciar o irmão, o pai, a mãe... e o vizinho mais próximo, quando não se tem mais a quem denunciar. Comentar, fingindo inocência, que o fulano não trabalha, que ele vive de muamba que traz do Paraguai (e você compra), é agora exercício de cidadania, tanto quanto a polícia federal monta operações james bond a fim de apanhar quem apanhou a grana do INSS, ou quem comeu criancinhas, além dos comunistas já hoje saciados.
Nós nos tornamos um bando de fofoqueiros, experts em leguminosas, uma xepa de abobrinhas. Mas... tudo em nome de uma outra tonalidade de verde: a da democracia nacional!(Marcus Moreira Machado)
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