O modo de relação dos homens consigo mesmo, com o mundo e com o outro; a experiência cotidiana, o imaginário vivido: eis o que é mito. Não exatamente uma crença nem um ato de fé.
No relato místico encontra-se a trama de significados através da qual se explica e se pensa no integral ordenamento do mundo. Confrontado pela organização social onde se formula, o mito surge como sistema de representação estruturado em consonância às distribuições e práticas sociais. Com efeito, no ritual sagrado, o ritual social.
O ato de reviver o começo do homem e do deus que o homem traz em si, eis o rito que atualiza o mito. Não é suficiente, pois, pretender fazer do mito o sentido vivido de uma comunidade, o sistema de representação que torna a prática imediatamente significativa: é necessário indicar as funções específicas que ele preenche enquanto dimensão individualizada. Porque se é radical a adequação do sagrado e do profano na experiência mítica, ela não é, todavia, uniforme. Pois, o sentido precisa ser expressado, atualizado novamente, senão correria o risco de, enfraquecendo, se apagar e perder, levando o significado e a coerência. Entretanto, mais que tudo, o sentido precisa ser evocado, porque as complementaridades e diferenciações nunca estão rigorosamente garantidas. E o evocado não é somente o sentido global da experiência comum, mas também o processo de legitimação que designa poderes e subordinações, os direitos à preeminência e os deveres da obediência. Na narrativa mítica, pela legitimação do rito, eis umm poderoso instrumento de regulamentação social.(Marcus Moreira Machado)
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