Duas paixões: a noite e à noite.
Labor e libido têm horário preferido.
Thanatos e Eros nunca foram amantes. Porque é o amor que fica sem dormir, sempre à espera de que a luz da vida acorde a cada um, nessa que é a ribalta comum.
Eu também, mais varonil, sou reconciliável no lábaro que ostento juvenil, na coincidência dos ponteiros, no porvir da madrugada afora.
Por isso, navegar é preciso por mares nunca antes navegados: nessa ilha, nesse arquipélago, nesse imenso rebanho de ovelhas negras perdidas nas utopias, desgarradas do açoite que deseja o dia inteiro.
Busco na noite a minha intimidade ainda não devassada: meu ser é de verdade, nessa realidade que faço da minha imaginação...
Vôa, liberdade! Ainda que tardia... à noite!
'Libertas', ó terra de rio...! Dos grilhões da infame miséria, 'libertas'!
Antes que a lua cheia desperte os vampiros de alma destas plagas, ressuscita-me!
À noite, acontece a ressurreição.
Na noite o grande espetáculo da vida, antes natimorta pelo ponto do cartão.
E o canto, e eu canto. E o cântico, a ode e a ária.
E a ufania da geral no estribilho, no bis do delicioso e farto falsete de quem sabe que além do mais é legítimo dueto.
Bom dia, noite querida!
(Marcus Moreira Machado)
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