Não é exagero, bastará um só olhar minucioso dirigido ao comportamento popular nas sociedades de massas para que se identifique o seu caráter 'mecânico' , 'automático' e 'alienado'.
Não é difícil entender que se destaque a apatia política quando se sabe que, ao lado da limitação coercitiva das formas de organização e expressão social, o monopólio da manipulação, nas mãos das novas 'oligarquias', constrói a 'cultura da ilusão'.
O avanço das tecnologias em comunicação, do fascínio da televisão à rede mundial de computadores, mais a rigidez do sistema político, são os instrumentos hábeis para, consolidando o conformismo, gerar expectativas na população.
Através da propaganda ideologicamente infiltrada, o consumo, até então limitado para a maioria, torna-se valor maior na realização cotidiana.
É bastante evidente a vil impostura na criação de uma atmosfera de consumismo numa realidade de muita carência, tendo início na ampla e "estimulante" difusão publicitária, por todos os canais da mídia, de artigos de luxo, visando em especial um público a quem falta o essencial.
O conformismo das massas se verifica por meio de uma combinação entre a 'cultura da ilusão' e a velada 'repressão'. Porque a experiência do pobre não é só a da carência econômica e cultural, mas também a da rigidez dos instrumentos de cerceamento nas sociedades urbanas de massas. E isto resta claro ante a confirmação de que uma das mais exaltadas reivindicações populares é referente à questão da 'segurança'. Esta ausente 'segurança' concreta -contra a prisão arbitrária, a violência física, a repressão pela despedida no emprego-, sem a mínima 'garantia' de reconhecimento de alguma instituição onde pudessem atuar, que, suprimindo a mobilização organizada, tem levado as classes populares à completa devoção no altar da propaganda e do consumo.
Na espoliação de todo um povo, o lucro político é dos governos que, coadjuvantes da manipulação, não apenas consentem como ainda investem nesse mesmo monopólio.
(Marcus Moreira Machado)
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