Ao reescrever a versão pessoal de uma história conhecida ou com alterações solicitadas pelo professor, como a mudança de cenário, de tempo ou de narrador, o aluno pode realizar um grande esforço criativo para conseguir reconstruir a mesma história e não perder a coerência. Esse processo, baseado em diferentes maneiras de reescrever um texto-fonte, é parte integrante do percurso de autoria, que pode ser construída com muita prática e reflexão.
Para que o aluno seja capaz de elaborar um texto com as próprias ideias e dentro das características de um gênero, ele precisa desenvolver um percurso de autoria.
Aspecto fundamental no trabalho de produção textual é garantir que a criança ganhe condições de pensar no todo. Do enredo à forma de estruturar os elementos no papel: é preciso aprender a dar conta de tudo para atingir o leitor. Esse processo denomina-se ‘construção de um percurso de autoria’ e se adquire com tempo, prática e reflexão.
Os estudos em didática das práticas de linguagem fizeram cair por terra o pensamento de que a redação com tema livre estimula a criatividade. Hoje, sabe-se que depois da alfabetização há ainda uma longa lista de aprendizagens, incluindo o investimento na ampliação do repertório dentro de um gênero literário, pois só assim é possível observar regularidades na estrutura discursiva e lingüística. A proposta do reconto oral de uma fábula conhecida, por exemplo, envolve organizar idéias, sendo uma forma de planejar a escrita. Quando já são dominadas todas as informações de uma narrativa, é então possível focar apenas a forma de expor os elementos.
As propostas seguintes são a re-escrita individual e a produção de versões de fábulas conhecidas com modificações dos personagens ou do cenário. Aos poucos, todos adquirem condições de inventar situações. Se o professor percebe que a turma não entendeu bem o sentido da moral da história, pediu aos alunos uma pesquisa sobre provérbios e seu uso cotidiano.
Com essa compreensão e um repertório de ditados populares, é sugerida a criação de uma fábula individual. Discute-se com o grupo a existência, via- de - regra, dos protagonistas inimigos tradicionais (cão e gato ou gato e rato, por exemplo). Assim, se fixa a primeira restrição à produção. Em seguida, a classe relembra alguns provérbios passíveis de escolhidos como moral nas histórias criadas.
Desde o início, todos sabem que as produções seriam lidas por estudantes de outra escola, o que serviu de estímulo para bolar tramas envolventes. Cabe nota, há uma diferença entre escrever textos com autonomia (obedecendo à estrutura do gênero, sem problemas ortográficos ou de coerência) e tornar-se autor. No primeiro caso, basta aprender as características do gênero e conhecer o enredo, por exemplo. No segundo, é preciso desenvolver ideias. Para chegar nesse estágio, a interação com professores e colegas e o acesso a um repertório literário são fundamentais.
O processo de construção da autoria impõe desafios cada vez mais complexos. E isso ocorre com a elaboração de tensões na narrativa ou a participação em debates no desenvolvimento da argumentação. A re-escrita, primeiro passo para a construção da autoria, pode vir com sugestões de produção de paródias, para alunos de grau mais avançado, exigindo mais elaboração por parte dos alunos. Uma boa maneira de fazer circular textos nessa fase são os meios digitais, como blogs e a própria página do colégio na internet. Os jovens podem se responsabilizar por todas as etapas de produção, inclusive pela publicação, verdadeiro estímulo ao aprimoramento da escrita. Pois, afinal, conduzir os estudantes a se expressar cada vez melhor, este deve ser o objetivo do professor.
(Caos Markus)
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