REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
SEXTA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2012:"LINGUAGEM E ARTICUALAÇÃO POLÍTICA"
“A língua deste gentio toda pela Costa é uma: carece de três letras, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem justiça e desordenadamente”.
(Pero de Magalhães Gândavo; "Tratado da Terra do Brasil”,1576).
A Esquadra de Cabral aportara em solo indiano, em 22 de abril de 1500, trazendo consigo, além da tripulação de marujos treinados pela Escola de Sagres, do Infante Dom Henrique, uma enorme população de portugueses, suprimida socialmente por Portugal e sem muita escolha sobre o próprio destino.
Porém, apesar de termos até então entendido o referido desbravamento como uma descoberta, algumas importantes investigações científicas aludem a outra realidade: a de que o Brasil precisava ser oficialmente apresentado ao mundo europeu, indicando-se então a referida data como a de seu oficial descobrimento pelos portugueses.
O que era então, em seus primórdios, o Brasil em relação ao que entendemos por uma sociedade, senão apenas uma terra em que lusitanos desgarrados, em sua maioria homens, e judeus obrigados a se converterem ao cristianismo, se estabeleciam sem qualquer espécie de ordenação social, sob o impacto da enorme dificuldade de comunicação.
Como versavam as palavras no pergaminho do escrivão da Esquadra de Cabral, Pero Vaz de Caminha:
“Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor outros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar”.
Nesta época, travava-se por parte dos lusitanos, intensa, árdua e complicada comunicação com os índios locais a fim de estabelecer uma comunicação sustentável que lhes prouvesse, no mínimo, o convívio necessário para a sobrevivência de ambos, que ali já se interagiam como povos, dividindo e mesclando culturas e tradições, criando um vínculo de intimidade entre os sexos opostos, resultando na primeira matriz de brasileiros. Surgia a miscigenação como caráter principal de uma sociedade em formação.
Povos que se uniam, por interesses diversos e que, ao longo dos anos, constituíam famílias vivendo sob uma marca cultural de forte autenticidade, totalmente diferente das gerações anteriores.Talvez por isso o aprendizado, ou da Língua Portuguesa (pelos nativos) ou da língua nativa (por parte dos portugueses), não fosse tão interessante. Porém, ainda assim, nos lares, o homem português rendia-se ao linguajar Tupi, pela natural questão do enlace. Uma marca endocultural que se consolidava de tal forma, a gerar, inclusive, modificações linguísticas.
O solo brasileiro já unia dois povos diferentes proporcionando um natural e harmônico convívio de etnias, em que a língua, em suas variações dialéticas, foi um dos fatores mais importantes para o estreitamento de ideais e conceituações éticas e morais, entre ambos. Mesmo imerso em um barbarismo linguístico, quando a comunicação entrelaçava essas línguas (fato que posteriormente culminou em um novo expressionismo linguístico), nada prejudicava aquela nova formação social.
A eufonia começava a ocupar espaço no seio familiar, quando as crianças, de natureza diglóssicas, se expressavam com mais clareza nesse novo contexto de comunicação. Na seara sociolinguística, variantes de expressões do coloquial eram quase que naturais e bem absorvidas, pois não havia, à época, razões econômicas ou políticas, habitualmente forte influência nas colônias, capaz de descentralizar a sociedade.
Cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma como é fundamental à humanidade compreender as diferenças ente povos de culturas diversas, é necessário saber entender as diferenças dentro do mesmo sistema.
Por um período de quase cinco décadas, após a vinda dos primeiros lusitanos ao Brasil (que ainda ficaria por muito tempo sendo identificado nos mapas como uma colônia de Portugal), os tripulantes das embarcações, aqui permanecendo, viram a terra como uma moradia, a princípio sem muitas esperanças de desenvolvimento e progresso, principalmente no âmbito educacional.
Somente com a vinda dos primeiros jesuítas às terras coloniais lusitanas do Além-mar, em 1549, após 15 anos de fundação da Companhia de Jesus12, em Paris,França, pelo sacerdote espanhol Inácio de Loyola (1491-1556), que podemos referenciar o Brasil como uma porção de terra habitada, que passa a proporcionar alguma espécie de êxito em relação às verdadeiras intenções missionárias, embora não nos permitamos deixar de valorizar a educação já existente no Brasil; educação nativa que se perpetuou ao longo de gerações.
Podemos nortear o Brasil, desde então, como um espaço físico habitado que, pela primeira vez, com a chegada dos “Sacerdotes de Cristo”, tem contato com a realidade educacional; uma realidade formalizada e moldada na conformidade e nos preceitos dos países mais desenvolvidos da Europa. Foram os jesuítas, os pioneiros da oficial e legal aprendizagem transmitida aos primeiros bastardos da jovem nação brasileira.
Desde o início, tanto na Terra de Santa Cruz quanto no Brasil, houve educação brasileira (porque as aulas eram ministradas na terra brasileira) para gente brasileira, embaixo de um sol brasileiro, para crianças da gente brasileira. Aliás, nunca foi e jamais será tão genuinamente brasileira a educação ministrada no Brasil, uma vez que, nesses primeiros séculos, a escola educava os curumins, os filhos dos indígenas do Brasil, os mais brasileiros de todos os brasileiros.
Acompanhados pelo Padre Manuel de Nóbrega (1517-1570), ambos compondo a tripulação de Tomé de Souza (1503 -1573), que seria o Primeiro Governador Geral das Capitanias Hereditárias, chegaram aqui, em número de seis jesuítas, marcando o início da História da Educação no Brasil (nos moldes europeus). Quinze dias após a chegada desses clérigos, incentivados pelo por Tomé de Souza, fundam, na cidade de Salvador, Bahia, a primeira escola elementar.
Era realmente impossível imaginar uma colônia lusitana que existisse sem a influência jesuítica em relação à educação. Fortemente equilibrada e capaz de se comparar ao clero europeu nas questões de articulação política para os seus próprios fins e atos, a Companhia de Jesus atua com maestria e uma desenvoltura diplomática inigualável.
Os primeiros contatos com o povo brasileiro, mesmo com a intenção de efetuar a difusão do ensinamento cristão aos silvícolas e miscigenados, não foi trabalho dos mais fáceis, visto que além de uma língua nativa, já existente, e a língua portuguesa preservada pelos primeiros colonizadores, ainda se falava um outro dialeto.
Portanto, a princípio, os jesuítas optaram pelo bom senso de aprender a língua nativa, o Tupi, deixando de lado os conceitos enfáticos da língua, tão enaltecedor do Latim, para, em um ato talvez herege, estreitar os laços de comunicação. Trataram também de aprender esse novo dialeto que começava a tomar forma.
(Caos Markus)
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