REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
domingo, 21 de outubro de 2012
QUINTA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2012: "A SEMIOLOGIA DOS DIALETOS"
Conceitua-se a linguística, comumente, porém de maneira muito evasiva, como a disciplina do estudo científico da linguagem. Uma definição, simples demais, a ponto de suscitar pluralidade de questionamentos. Primeiramente, é indispensável a determinação de entendimento do termo ‘linguagem’, nem sempre empregado com o mesmo sentido. É necessária ainda a delimitação do significado de um estudo científico da linguagem.
Além disso, não se pode esquecer a existência de outros ramos do conhecimento; à sua maneira, também se interessam pelo estudo da linguagem.
Isso se dirige ao estabelecimento de alguns contrastes entre a linguística e algumas ciências ou disciplinas afins, de modo a demarcar seu campo de atuação.
Buscaremos, por isso, desenvolver algumas observações sobre os conceitos de linguagem e de língua, através do reconhecimento do que há de científico nos estudos elaborados na área da linguística. E, concomitantemente, diferenciar essa disciplina de outros ramos do conhecimento, igualmente interessados na compreensão da linguagem. Por acréscimo, apresentaremos áreas de aplicação das teorias linguísticas, finalizando a semiologia aplicada a pesquisas relacionadas aos dialetos.
O termo ‘linguagem’ apresenta mais de um sentido. Ele é mais comumente empregado para referir-se a qualquer processo de comunicação, como a linguagem dos animais, a linguagem corporal, a linguagem das artes, a linguagem da sinalização, a linguagem escrita, entre outras. Nessa acepção, as línguas naturais, como o português ou o italiano, são formas de linguagem, posto instrumentalizarem o processo de comunicação entre os membros de uma comunidade.
Entretanto, os linguistas costumam estabelecer uma relação diferente entre os conceitos de linguagem e língua.
Entendendo ‘linguagem’ como uma habilidade, os linguistas definem o termo como a capacidade, atribuída ao seres humanos, de comunicação por meio de línguas.
Por seu turno, o termo ‘língua’ é habitualmente definido enquanto sistema de signos vocais utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo social ou de uma comunidade linguística.
Quando falamos, então, que os linguistas estudam a linguagem, dizemos que, embora observem a estrutura das línguas naturais, eles não estão interessados apenas na estrutura particular dessas línguas, mas nos processos que estão na base da sua utilização como instrumentos de comunicação. Em outras palavras, o linguista não é necessariamente um poliglota ou um conhecedor do funcionamento específico de várias línguas, mas um estudioso dos processos através dos quais essas várias línguas refletem, em sua estrutura, aspectos universais essencialmente humanos.
A linguística, como ocorre noutras ciências, apresenta diferentes escolas teóricas, todas diferenciando a seu modo a compreensão do fenômeno da linguagem.
Em uma tentativa de apresentar uma visão mais geral e, sobretudo, imparcial sobre essas escolas, apresentaremos como proposta a ‘capacidade da linguagem’, exclusivamente humana, no conjunto das múltiplas características seguintes.
1) uma técnica articulatória complexa: quando falamos em técnica articulatória, nos referimos a um conjunto de movimentos corporais necessários à produção dos sons que compõem a fala.
Esses movimentos envolvem desde a expulsão de ar a partir dos pulmões (através dos brônquios, da traqueia e da laringe) até sua saída pelas cavidades bucal e nasal.
A sutileza que caracteriza esses movimentos e, sobretudo, a singularidade permissiva de distinção dos vários sons e sua correlata função no sistema da língua, de modo a indicar o prevalecimento do processo de produção vocal como uma tarefa absolutamente complexa.
No que diz respeito à produção sonora dos elementos fonéticos, é de se notar a distinção entre ‘b’ e ‘p’. Ambos são oclusivos, bilabiais, orais. A única distinção entre eles é que ‘b’ é sonoro e ‘p’ é surdo. Ou seja, na pronúncia do ‘b’, a glote (espaço entre as cordas vocais) está semifechada, fazendo vibrar as cordas vocais com a passagem do ar.
No caso de ‘p’, a glote está aberta, facilitando a passagem do ar, sem causar a vibração das cordas vocais. Essa diferença na articulação é um traço distintivo no sistema da língua portuguesa, pois a troca de ‘p’ por ‘b’ (e também o contrário) leva a uma mudança de significado das palavras, como em ‘bote’ e ‘pote’.
A esse fato está associado o domínio do falante sobre intrincados fenômenos de ordem fonológica que caracterizam o uso cotidiano de uma língua.
Sob tal aspecto, são interessantes fatos como a troca de ‘e’ por ‘i’, por exemplo, que, na contraposição entre ‘pera’ e ‘pira’ causa uma modificação de sentido, mas na oposição entre ‘menino’e ‘mínimo’, não.
Demonstram o uso da linguagem na condição do domínio de um conjunto de procedimentos codificados, associados não somente à produção e percepção dos diferentes sons da fala, mas também aos efeitos característicos da distribuição funcional desses sons pela cadeia sonora.
2) uma base neurobiológica composta de centros nervosos utilizados na comunicação verbal: essa relação entre a linguagem e nossa estrutura neurobiológica pode ser vista nas afasias, caracterizadas como distúrbios de linguagem provenientes de acidentes cardiovasculares ou lesões no cérebro.
Desde meados do século XX, a partir dos estudos científicos, restou confirmado que lesões ou traumatismos em determinadas áreas do cérebro provocam problemas de linguagem.
Se as lesões ocorrem na parte frontal do hemisfério esquerdo do cérebro, elas causam nas pessoas afetadas uma articulação deficiente e uma séria dificuldade de formar frases, preservando, todavia, sua compreensão daquilo que as outras pessoas falam.
Pretendemos demonstrar, com informações sobre as relações entre linguagem e estrutura neurobiológica o funcionamento da linguagem, pela interdependência com uma estrutura biológica a conduzi-lo.
3) uma base cognitiva, regente das relações entre o homem e o mundo biossocial e, via de consequência, a simbolização ou representação desse mundo em termos linguísticos.
Associado à base neurobiológica está o funcionamento mental, ou seja, processos associados à nossa capacidade de compreender a realidade, obrigando-nos a transmití-los aos nossos semelhantes em situações igualmente reais de comunicação.
Pode-se dizer, o termo ‘cognição’ se relaciona ao funcionamento mental, tal qual em linguística existem diferentes teorias que descrevem esse funcionamento.
Para a constituição genérica de como a linguística trata esses fenômenos, é interessante reconhecer seu histórico do modo como os linguistas compreenderam a relação entre o uso da linguagem e o funcionamento da mente ao longo da sua evolução.
Cada língua segmenta a realidade de um modo peculiar e impõe tal segmentação a todos os que a falam. Isso significa que a linguagem é importante não só para a organização do pensamento, como também para a compreensão e categorização do mundo que nos cerca.
Algumas línguas indígenas apresentam o mesmo termo para designar o sol e a lua. Isso significa, segundo essa teoria, que os falantes dessas línguas identificam esses dois objetos celestes como pertencentes a uma mesma categoria de coisas. Em nossa cultura, isso não acontece: temos nomes distintos para designá-los.
Isso ocorre porque acreditamos se tratar de duas coisas de natureza diferente.
Assim, a linguagem determinaria a percepção e o pensamento: as pessoas que falam diferentes línguas enxergam o mundo de modos distintos. Por sua vez, as diferenças de significados existentes numa língua são relativas às diferenças culturais relevantes para o povo que usa essa língua. Confirma-se a importância da linguagem na compreensão e na construção da realidade.
Não é nosso objetivo entrar nos detalhes associados às discussões sobre a natureza da estrutura cognitiva humana, e sim registrar o fato de que a aptidão da linguagem implica um tipo de organização mental sem a qual ela não existiria ou, pelo menos, não teria as características que tem.
4) uma base sociocultural atribui à linguagem humana os aspectos variáveis por ela apresentada no tempo e no espaço: a linguagem é um dos ingredientes fundamentais para a vida em sociedade. Desse modo, ela está relacionada à maneira como interagimos com nossos semelhantes, refletindo tendências de comportamento delimitadas socialmente. Cada grupo social tem um comportamento peculiar, manifestando-se também na forma de falar de seus representantes.
Além disso, um mesmo indivíduo em situações desiguais usa a linguagem de maneiras diversas. Quando está no trabalho, discutindo questões profissionais com seu chefe, por exemplo, o falante tende a impregar uma linguagem mais formal. Contudo, em casa, conversando com os familiares, o falante utiliza uma linguagem simples, corriqueira, popular.
Importante, também, registrar as mudanças em nossas vidas, em função da evolução cultural. Assim, as línguas acabam sofrendo mudanças decorrentes de alterações sociais e políticas, de eventos de natureza sociocultural característico da vida em sociedade. Variam pela vontade dos indivíduos ou dos grupos em se identificar através da linguagem, mudando em função da necessidade de se buscar novas expressões para designar novos objetos, novos conceitos ou novas formas de relação social.
5) uma base comunicativa a abastecer dados reguladores da interação entre os falantes.
Como a linguagem se manifesta no exercício da comunicação, existem aspectos provenientes da interação entre os indivíduos, revelados na estrutura das línguas. Algo comum no processo de criação de formas novas e mais expressivas na substituição de construções cujos significados perderam sua função.
(Caos Markus)
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