O marxismo não teme, conforme o contexto, evocar uma racionalidade, uma concepção positivista da ciência, ou até mesmo um irracionalismo voluntarista da violência, em teorias que se aliam à técnica totalitária da tomada e da conservação do poder, ou seja, à recondução da dominação.
Em antagonismo a uma história deduzida diretamente do conceito do materialismo histórico, sugestiva é a proposta de resgatar uma outra história, na qual as sequelas do sofrimento do passado permaneçam presentes em seus feitos.
A tradução do sofrimento em concepções universais e abstratas torna-o sem voz, desprovido de significado. Não se trata da piedade piegas de um suposto revolucionário qualquer, mas sim da real compaixão. É, então, o verdadeiro revolucionário compreendendo a conexão entre compaixão e política.
Aquele, ao contrário, exalta o sofrimento do povo e, ao mesmo tempo, o submete à mais cruel repressão.
Se a compaixão é um compadecimento, a sua efetiva identificação se perfaz com a angústia do indivíduo face o sofrimento alheio. Porque a compaixão encontra sua força no fato de estar unida a um ser particular, único, não podendo, assim, ser generalizada. Ela é uma tristeza que reconhece e compartilha o mesmo sofrimento dos demais, sendo levada, portanto, a querer o seu próprio fim.
A emancipação não é possível em termos gerais, tão-somente. Diversamente, pela compaixão, surge a liberdade do indivíduo, na medida em que é nele que se concentra o conflito entre a autonomia da razão e as forças obscuras e inconscientes que invadem esta razão.
(Caos Markus)
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