Ocupados na destacada tarefa de estabelecer uma relação entre 'redistribuição' e 'reconhecimento', há quem defenda o "dualismo perspectivo", onde um eixo não pode ser reduzido a outro, mas ambos possam (e devam) ser vinculados num conceito amplo de justiça, conjugando-os sob o objetivo normativo da "paridade participativa". Por outro vértice, há quem considere ilegítima a distinção entre 'cultura' e 'economia', propondo um "monismo normativo", aí entendendo a economia enquanto resultado das inter-relações sociais legitimadas intersubjetivamente por três esferas do reconhecimento, a saber, o amor, a lei e a estima.
Esse discurso reconstrói a formação da sociedade moderna como a diferenciação entre três esferas de reconhecimento autônomas:
1) o amor é a esfera afetiva colocada em movimento por decorrência do fim das amarras do status nas relações sociais medievais;
2) a legalidade é resultado do discurso burguês sobre a necessária igualdade de condições legais entre os seres humanos;
3) já a estima social é a re-interpretação do status medieval, com a diferença revolucionária de que aqui os sujeitos são avaliados por suas realizações e não por seus laços de parentesco.
São estas três esferas de reconhecimento o respaldo da legitimação dos discursos sociais atuais. Por isso a base normativa da teoria crítica deve partir desse consenso moral estabelecido.
Se a única possibilidade de questionamento está na utilização da linguagem burguesa hipócrita de legitimação, então a tarefa mais difícil será exatamente a crítica do que está posto. Resta como possibilidade uma crítica reformista de 'aprimoramento' das incompletudes da modernidade, sendo varrida a possibilidade de uma crítica radical.
Cria-se uma monolítica esfera intersubjetiva hegemônica burguesa, concluindo-se que toda argumentação racional precisa partir de tais princípios. Isso reduz a estrutura econômica atual a um consenso moral intersubjetivamente estabelecido sobre a esfera de reconhecimento da "realização meritocrática".
Entretanto, nos leva à falsa ideia, por exemplo, de que a razão para traficantes de alta patente possuirem rendimentos superiores aos dos professores é o desrespeito cultural dos cidadãos pela profissão, enquanto super-valorizam o 'importante' ofício da distribuição ilegal de drogas e armas.
Não por outro motivo, acredita-se, a reivindicação distributiva deve assumir a forma da argumentação legal e/ou da re-interpretação do princípio de realização, reduzindo, então, o campo dessa a um espectro idealista. Idealismo e ideologia, nota-se, não guardam entre si exata sinonímia. Porém, ao contrário, o mundo atual está profundamente legitimado, pois sua base de sustentação é exatamente a razão socialmente estabelecida.
Ora, se o capitalismo está embasado na legitimação racional através de princípios gerais de reconhecimento recíproco; e sua reprodução depende da base de consenso moral, culturalista; por conseguinte, é de supor, não há necessidade alguma de crítica, ainda mais porque esse consenso moral tem prioridade frente a outros mecanismos de integração.Buscando-se demonstrar a irredutibilidade das questões culturais às econômicas e vice-versa, através de exemplos empíricos, o quê se almeja é a abordagem teórica a considerar a diferenciação entre estes dois eixos de justiça, e também da inter-relação patente entre eles. Através de seu "modelo de status", é abandonada a questão da formação identitária dos sujeitos mal-reconhecidos, voltando-se para os resultados institucionais da ausência de paridade participativa decorrente desse mal-reconhecimento.Não por outro motivo, acredita-se, a reivindicação distributiva deve assumir a forma da argumentação legal e/ou da re-interpretação do princípio de realização, reduzindo, então, o campo dessa a um espectro idealista. Idealismo e ideologia, nota-se, não guardam entre si exata sinonímia.
Ao contrário, porém, o mundo atual está profundamente legitimado, pois sua base de sustentação é exatamente a razão socialmente estabelecida.
Há aqui algumas complicações desnecessárias.
A ideia de uma justiça acima da opinião dos atores é desnecessariamente autoritária. A distinção nesse caso é entre 'coisas das quais se gosta' e 'coisas que não são admitidas', pois a separação entre 'concepção de justiça' e 'concepção de boa-vida' faz parecer que deve-se tratar as duas coisas separadamente. E não. O mais interessante é avaliar as duas coisas juntas.
Nesse caso devemos acreditar que democratizando as mídias, as escolas, as condições de vida e dignidade; democratizando a sociedade; as soluções encontradas pelas pessoas serão mais e mais próximas de uma boa concepção de justiça integrada a uma boa concepção de boa vida. E, por conseguinte, não haverá necessidade de afirmar uma instância distinta da opinião dos 'atores', com autoridade sobre eles.
Diversamente, é necessário que os atores sociais igualmente assumam os poderes, atualmente exclusivamente governados por protagonistas, na condição de 'atores especiais', tão-somente por possuirem a propriedade privada e concentrarem consigo os grandes volumes de capital.
(Caos Markus)
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