Privilegiar o pensamento independente é de fato a tendência atual. Com destaque à originalidade, tem sua representação em um movimento de reação à excessiva padronização imposta às relações constitutivas da organização social. Entretanto, ao enaltecer o inédito, problemas normais também são avaliados à luz do extremismo, com consequentes prejuízos a soluções convencionais necessárias ao bom desempenho político da cidadania. Querer inovar sem estabelecer vínculo com o passado ou com o presente, desprezando a cumulação das sucessivas iniciativas, é subtrair do processo histórico o seu arcabouço; é perder entendimento e domínio da própria ambição. O que então se busca é somente uma nova imagem a modernizar o mesmíssimo conceito, apresentando-o como 'revolucionário'. Em síntese, eis a cartilha panfletária do subdesenvolvimento político, com apenas duas palavras - "sim" e "não". No beabá dessa iniciação, distorcendo e deturpando fatos, o carisma se sobrepõe à investigação acurada, no aparato da retórica superficial. Ora, a crítica pressupõe dois requisitos, dois fundamentais elementos: a tese e determinados postulados. A única dificuldade no exercício pleno da crítica é o conhecimento das normas. Já a tese, por si só, é somente diletantismo. E não é outra coisa o que se encontra na cartilha do desenvolvimento político -tese e antítese se contrapõem, apartadas das informações estruturais. O julgamento superficial sempre evidencia o "diferente", em apreciação leviana; e, ainda, oculta as minúcias próprias do que é complexo, desprezando o aprofundamento de pontos essenciais à compreensão do todo. É sabido, quando se pretende de fato progredir, o verdadeiro gesto constitutivo de inteligência é a adoção da parcimônia, evitando-se os devaneios. Afirmou Descartes: "Seria útil que o público fosse particularmente informado". Mas em nosso subdesenvolvimento político falta-nos a informação; a cartilha seguida é eivada de mensagens apologéticas à ruptura, limitada no binômio 'sim' e 'não'. A contraposição e a dualidade, aqui, refletem o caráter forjado na frivolidade. É justamente nessa polarização que -com territórios delimitados- que responsabilizamos governos, esperando que as soluções venham da cúpula administrativa do país. Todavia, o caos não se modifica por si próprio. Eximir-se da ação positiva nos limites institucionais -coletivos e individuais- é investimento certo na estagnação. Alguém há de começar, e todos haverão de ser os primeiros. Entretanto, ninguém jamais intervirá a ponto de efetivar alterações desejadas, se prevalecer o confinamento da elaboração de projetos majestosos, em prejuízo de outros mais modestos, contudo, de aplicação imediata, porque viáveis e não exclusivamente idealizáveis.
Afinal, beabá e blá-blá-blá são coisas diferentes.
(Caos Markus)
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