A pesquisa informa que enquanto os adolescentes argentinos pretendem mais justiça social, os jovens brasileiros buscam ser, apenas, felizes. É de se perguntar: a nossa juventude poderá ser feliz sem alcançar uma sociedade mais justa? Ou de qual adolescente brasileiro comenta a notícia? Daquele que já tem alguns motivos compreendidos como razão da felicidade, ou do outro - a grande maioria - esquecido no infortúnio, relegado à mais sódida miséria em todos os níveis e sob todos ao aspectos?
Esses ultimos provavelmente nem sequer foram pequisados, pois que de há muito não são mais jovens (se é que foram algum dia), assim como nem crianças foram quando tinham idade para ser, mas obrigados estiveram a conhecer de perto as agruras supostamente dos adultos exclusivas.
Um alerta se impõe aos "meninos" do Brasil, esperançosos com a posibilidade de reascenção da classe média, diante de alvissareiras propostas de ordem política e econômica presentes no país: a felicidade não é um privilégio ou um presente; é, antes, uma comquista pelo trabalho, através do comprometimento com o bem-estar de toda a coletividade.
A vigilância, inegavelmente, é o instrumento hábil da soberania e da independência. Não por menos, sabem os argentinos a importância que tem a participação conjunta, quando se quer manter as vitórias obtidas pela perseverança nutrida nos embates sociais. Assim, será pela aquisição de uma nova ordem cultural, moldada no conhecimento das nossas mais particulares questões, que o adolescente brasileiro terá garantida a felicidade extensiva a todo povo nacional.
Não obstante as promissoras perspectivas que se abrem para a economia, face á seriedade com que se impõe uma concepção de governo sensível á necessidade de mudanças, o Brasil ainda terá muito tempo pela frente para se ver definitivamente livre da ignorância e do preconceito que, contraditoriamente, o colocam nas páginas dos jornais como um exemplo maior de subdesenvolvimento social. E, alheios à retomada do crescimento, ansiosos apenas por angariar dos dividendos a maior parcela, não verão nem as crianças nem os adolescentes mais que um final de festa, assim que acenderem as luzes daquela que, precipitadamente, julgam ser uma comemoração.
Se já não é mais momento para rostos sisudos, expressão natural de quem sempre apostou no fracasso e no pessimismo, também não é hora para festejos descabidos. O que se opera entre nós é o estabelecimento de uma firme convicção em nosso posencial; fortalecer as estruturas dessa proposição, no entanto, requer equilíbrio e moderação, algo a que não estamos habituados. Por isso, então, a exigência de cautela, a mesma que faz dos povos do mundo civilizado pessoas compromissadas com um futuro distante, integrante, porém, dos destinos de um país e das gerações vindouras.
Se há algum característico que deva ser imediatamente extirpado do caráter brasileiro, esse é o do individualismo. Não confundindo-o com individuallidade - essa a ser preservada em quaisquer circinstâncias -, o egocêntrico haverá de sucumbir, substituido pelo sentimento mais elevado da solidariedade. Pois, enquanto a cumplicidade der o tom das relações em sociedade, inadmissível será apontar uma ínfima parcela da população nacional como representante corrente de opinião; não há que se falar em conjeturas desse ou daquele segmento social como o sendo o pensamento abrangente de um todo, quando, na verdade, a esmagadora maioria se desfaz ante a estratificação social acentuada e desagregadora.
A resistência a mudanças implica ou em manutenção de privilégios ou em passividade e conformismo. Nem uma e nem outra, a qualidade desejável será sempre a da transigência como pressuposto da transformação efetiva. E a felicidade, assim, deverá ser compreendida como objetivo a ser atingido muito mais pelo trabalho e pela obstinação que pela plácida contemplação daquilo que por outros foi realizado.
Dentre os meninos do Brasil temos vários, pois que também o próprio país é vários brasis, onde, enquanto num deles a maioridade conquista-se com a gorda mesada do pai, noutro a emancipação é bastante antecipada pela contingência da miserabilidade, exigindo, então, de crianças e adolescentes um compromisso com outra felicidade, muito mais efêmera, porém muito mais urgente - a da particular sobrevivência.
(Marcus Moreira Machado)
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