"A gente não quer só comida…" Mas, nem comida a gente tem mais. "A gente quer diversão…" E a maior diversão do brasileiro hoje em dia é poder comer um danoninho que vale por um bifinho, quando é possível fazer a tal da "compra de mês", que agora é comprada do bimestre ou do trimestre. É até bonito de ver…! a criança toda fazendo a maior festa quando chega a perua do supermercado! Que nem precisa ser supermercado mesmo, porque tudo aqui virou super. Por exemplo, já vi mercearia ostentando no letreiro: "Supermercadinho São Judas Tadeu". Pode ?! Pode sim. E pode ainda muito mais. Pode virar antropófago sem o querer ser, comendo gato por lebre nos supermercados alternativos, ou de segunda mão, ou brechó de alimentação, ou pechincha, ou ainda e definitivamente "lixões", como é mais conhecido pelos habituais fregueses. Aliás, nem sempre tão habituais assim, porque vez ou outra um filé de seio contaminado põe fim nesses glutões inveterados (ou, nessa altura dos acontecimentos, já seriam invertebrados?).
Dia desses, procurando encurtar caminho num cruzamento super, híper congestionado lá de Sampa, eu me aventurei a caminhar por debaixo de um viaduto. O que lá eu vi me causou espécie: gatos, muitos gatos, gatos em profusão! Percebi que era tudo intencional. Em tendas improvisadas, ninhadas do dito felino faziam parte da esdrúxula criação. Isso mesmo! Os fazendeiros do asfalto contam com dezenas de centenas de cabeças… de gato!
Um cantor popular já lamentou essa "vida de gato" do zé-povinho. E eu aqui, imaginando se aquela criação toda destinava-se a fornecer peles para os tamboris de alguma escola de samba do 1° grupo. Mas, caí na real. Com o advento do acrílico, pele de gato já não tinha nenhuma unidade real de valor. Então, aqueles pecuaristas tinham o "gado" para o seu próprio consumo. Antes isso, ponderei. Pior é viver (ou morrer?) nos sarcófagos da mega miséria.
Quem sabe não matar dois coelhos com uma só cajadada? Com incentivo à arrecadação de I.C.M.S., seria possível a qualquer governo sério exterminar os males da fome e da escassez de moradia (às vezes conhecido por "déficit habitacional"). Construindo viadutos populares, implantaria-se o subsídio à produção de carne de "felídeos", e de quebra estaria resolvido o dilema da reforma agrária, assentando os colonos "sem-terra". Isso para não falar da inegável medida sanitarista conseqüente, isto é, os gatos comeriam os ratos que costumam roer a roupa do rei de ro…
Se o brasileiro é tão criativo como dizem os gringos, por que não se adaptar ao meio? O que falta é só o meio. Assim, poderíamos ler nos "out-doors" mensagens didático-pedagógicas do tipo "Tente, invente, faça um governo diferente". E, mais outro crucial problema nacional - o da educação (ou o da falta dela?) - estaria também sanado. Pois, com a proliferação de oficinas pedagógicas pelo país afora, uma versão moderna do método "Paulo Freire" seria responsável por campanhas de alfabetização através de "educadores de rua", permanentemente nas ruas, co-habitando com o seu "corpo discente", debaixo dos viadutos, tudo sob a orientação das mais modernas técnicas nutricionistas do terceiro milênio do quinto mundo.
O PIB - o nível da Porcaria Ingerida pelo Brasileiro - fatalmente seria eliminado, proporcionando ao país o equilíbrio em sua balança-gangorra comercial, quando um come dois outros morrem de fome.
Como sempre foi e sempre será impossível agradar a gregos e troianos, a tucanos e moicanos, nada mais razoável que a instituição de um governo de mão dupla, onde esquerda e direita respeitassem o semáforo no vermelho-sangue do estandarte apocalíptico da porca miséria nacional. Quem sabe se encerrasse, dessa maneira, a mania tresloucada de para- frasear aquele curioso filme "Como era gostoso o meu francês", e a necrofagia deixasse de ser a gastronomia de tantos brasileiros.
Não faz mal que a gente continue a escrever "caussa jins", pois afinal a norma culta sempre esteve submissa aos "neologismos". O que não dá mais para aguentar é cadáver sendo chamado de "presunto", babaca otário alcunhado de "laranja", e a gente a se devorar, virando "mortadela".
Em "A Revolução dos bichos", os porcos assumem o comando da "fazenda", após revolta da bicharada; e, absurdamente, adotam modelo igual, ou até pior, de governo, conforme o e seus antecessores, os humanos. Cá entre nós o destino quer imitar a ficção, e a "porcaria" (ou "vara", que é a manada de porcos, se assim preferirem) insiste em deixar de "comer criancinhas" para abocanhar o poder, com promessas de alimentação farta, conforme anunciada pela amostra grátis de pãozinho, distribuída no agreste nordestino pelo "padim ciço" travestido de Prestes empunhando o seu pavilhão vermelho "como o sangue de Jesus", e com a "estrela guia" a apontar para Brasília o norte da política "redentora" das "massas" acefálicas.
E, nem ordem nem progresso, entre nós o que hoje fala mais alto é o "autismo" do "O homem que virou suco", servido de bandeja aos abutres da carnificina nacional, às hienas da nossa porca miséria, que riem à espreita do moribundo.
(Marcus Moreira Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário