Kant foi pioneiro na compreensão do homem de forma crítica, oferecendo uma resposta às reflexões de Pascal, destinada, assim, metafisicamente ao 'ser' do homem, contextualizando sua relação com o mundo e captando seus problemas fundamentais:
"¿qué es este mundo ele hombre conoce? ¿Cómo es posible que el tal como es em su realidad concreta, pueda em geral conocer? ¿Cómo está el hombre em el mundo que así conoce, que es este mundo para él y él para el mundo?".
Kant insistiu em que o espaço e o tempo são apenas as formas nas quais a visão humana 'daquilo que é', necessariamente se realiza; ou seja, não são constitutivos da natureza íntima do mundo e sim dos sentidos do indivíduo. O mundo é dado como uma aparência cuja existência e conexões só podem se realizar na experiência. A finitude e infinitude do espaço e do tempo não entram nessa aparência. A eternidade é algo bem diferente do infinito, exatamente como não é igual ao finito. Portanto, conclui-se pela possibilidade de uma conexão entre o homem e o eterno.
A resposta kantiana a Pascal pode ser formulada nos seguintes termos: o que se aproxima de nós, a partir do mundo hostil e aterrorizador, o mistério do espaço e do tempo, é o mistério de nossa própria compreensão do mundo e o mistério de nosso próprio ser. “Tu pergunta ¿Que es el hombre? es, por tanto, um problema auténtico para el que tienes que buscar la solución". Em vez de construir uma nova casa no universo, ele deve conhecer-se a si mesmo. Bernhard Groethusyen, discípulo de Wilhelm Dilthey, fundador da história da antropologia filosófica, disse com razão, a propósito de Aristóteles, que, com ele, o homem deixa de ser problemático. Segundo Marías, em Aristóteles, o homem é definido pelo saber. É esta a dimensão essencial do ente humano. Aristóteles aprofundou-se estranhamente neste permanente e quotidiano mistério de que o homem conheça as coisas, de que estas passem, de certo modo, a estar nele embora ficando fora dele; e de que o homem, consoante sua expressão feliz, seja de algum modo as coisas mesmas. No saber, o homem encontra sua perfeição; e, portanto, na vida que consiste em saber, na que chama contemplativa ou teórica, acha-se a plena realidade do homem enquanto tal; seu exercício adequado e próprio. E isto é o que se entende por felicidade. A moral aristotélica, que é uma moral de perfeição, apresenta-se centrada no conceito de vida contemplativa, que é, ao mesmo tempo, a vida feliz e a virtude mais elevada. Mas o pleno saber, a vida contemplativa em sua autenticidade, que é a mais própria e verdadeiramente humana, é simultaneamente o tempo algo que excede o homem. O que é mais seu é concomitantemente algo alheio, possuído apenas parcialmente e como de empréstimo. Enfim, um valor divino. O homem, vivente mortal, uma coisa entre outras, participa, por sua capacidade contemplativa, de outro modo de ser mais alto, divinizado, cuja vida consiste na contemplação de si mesmo. Em certo sentido, pois, a posição do homem é intermédia: quando é plenamente homem, transcende a si próprio para penetrar no modo de ser do divino e assim imortalizar-se. A antropologia aristotélica culmina, desse modo, em uma referência ao divino: o próprio do homem é ser mais que homem.
(Marcus Moreira Machado)
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