Herbert Marcuse, através de “Eros e Civilização”, faz um estudo sobre as teorias de Sigmund Freud e de Karl Marx. O filósofo Marcuse busca compreender como ocorrera o processo de civilização da humanidade. Conforme Freud, “a história do homem é a história da sua repressão. No caso, a repressão dos desejos de Eros e Thanatus é convertida em energia para o desenvolvimento da humanidade. O homem reprimido proporcionaria o progresso da civilização, pois sua energia é canalizada aos progressos da humanidade, na sua evolução social e intelectual. Assim sendo, por meio desta repressão seria encontrada a explicação da nossa existência, pois,“a cultura coage tanto a sua existência social como a biológica, não só partes do ser humano, mas também sua própria estrutura instintiva. Se tivessem liberdade de persistir seus objetivos naturais, os instintos básicos do homem seriam incompatíveis com toda a associação e preservação duradoura: destruiriam até aquilo a que se unem ou em que se conjugam”, afirma Marcuse. No entanto, o homem, para garantir a sua sobrevivência, influenciado pela cultura, necessita desviar os instintos animais de seus objetivos, transformando o homem animal, quer dizer, os “desejos suicidas” em 'ser humano'. É preciso negar sua liberdade para “civilizar-se”.Freud apresenta essa transformação do “princípio de prazer em princípio de realidade” descrevendo o inconsciente do homem como governado pelo princípio do prazer. E este é, a todo momento, controlado pelo consciente (o princípio da realidade). O princípio da realidade seria a mediação do ego (consciente) com o id (inconsciente) e o superego (cultura). O homem, pr meio do princípio de realidade, consegue controlar o do prazer, aprendendo a abandonar seus desejos momentâneos. Pela mediação do ego com o id e o superego, torna-se o homem, capaz de “examinar a realidade, a distinguir entre bom e mau, verdadeiro e falso, útil e prejudicial.Transforma-se num sujeito consciente, pensante, equipado para uma racionalidade que lhe é imposta de fora”.
Se a civilização da sociedade provém da renúncia da felicidade, isso, então, por efeito, nos caracteriza como seres infelizes?
Se o homem abre mão de sua liberdade, de sua felicidade, permutando-as com a civilização, a fim de garantir a sua sobrevivência... isso nos sinaliza para o pessimismo? Marcuse descreve ainda, na tentativa de reavaliar a maneira específica do comportamento da sociedade contemporânea, a “super-repressão sexual” exercida sobre o trabalho, transformando as energias reprimidas em esforço para o trabalho. O trabalho alienado, via de consequência; aquele que não traz satisfação nem alegria ou compensações; não é fonte de criação nem possibilidade de sublimação. Trabalho ascético da vida ascética.Trabalho super-reprimido que não protela nem substitui o prazer. Trabalho que tão-somente mata.A super-repressão se define em “produzir para consumir e consumir para produzir; sentir-se culpado, humilhado, diminuído quando não se produz o quanto e o que a sociedade estipula ”.Essa mudança da satisfação imediata para a satisfação adiada implica num quadro de alterações na estrutura de uma sociedade civilizada.
A restrição do prazer proporciona a canalização das energias reprimidas para a produtividade, tornando o trabalho como uma atividade penosa, alienante e necessária à sua sobrevivência. O homem cada vez mais se sente incompleto. Marcuse escreve, ainda sobre o “princípio de rendimento”, explicando que o indivíduo, com sua insatisfação, faz do trabalho uma atividade lucrativa. Todavia, isso significa suporte ao capitalismo.Diante desta interpretação pode-se afirmar: através do princípio de rendimento se tem início o processo de exclusão, porque aqueles que não conseguirem acompanhar o ritmo nas exigências do mercado, serão excluídos, produzindo a pobreza e a miséria. Afinal, o controle do mercado acaba nas mãos de uma minoria, com o desemprego cada vez maior, com os indivíduos alienados de sua própria existência. Assim, percebe-se, o trabalho não é algo que liberta, mas sim uma atividade que domina. E, escravos, já não se sabe onde há liberdade.
(Marcus Moreira Machado)
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