Política e violência compreendem relação que se constitui tema central da cultura ocidental desde suas origens. Desde o tempo dos mitos gregos aos dias atuais, a pergunta se é lícito servir-se de meios violentos para alcançar certos objetivos políticos esteve sempre presente. Qualquer monumento, como lembra Benjamin, é sempre também um monumento da barbárie. Particularmente na esteira da idéia marxista de revolução ou de luta de classes, esse foi sempre um tema muito polêmico. Após as frustradas tentativas revolucionárias da década de 1920 na Europa e as terríveis experiências do stalinismo, do nazismo e do fascismo, a juventude, na esperança de reverter o refluxo da consciência e da vontade de renovação política, chamou a si a tarefa de transformação social, recolocando, uma vez mais na ordem do dia, o papel da violência nas transformações sociais. Dois grandes pensadores - Herbert Marcuse e Hannah Arendt - tomam partido nesse debate, um condenando e o outro defendendo a não-violência.As críticas de Marcuse à sociedade capitalista, em especial na obra "Eros e Civilização", de 1955, e em "O homem unidimensional", de 1964, fizeram eco aos movimentos estudantis de esquerda dos anos 1960. "O homem unidimensional" pode ser visto como uma análise das sociedades altamente industrializadas.Herbert Marcuse critica tanto os países comunistas quanto os capitalistas, por suas falhas no processo democrático: nenhum dos dois tipos de sociedade foi capaz de dar igualdade de condições para seus cidadãos.Ele argumentava que a sociedade industrial avançada criava falsas necessidades que integravam o indivíduo ao sistema de produção e de consumo. Comunicação de massas e cultura, publicidade, administração de empresas e modos de pensamento contemporâneos apenas reproduziriam o sistema existente e cuidariam para eliminar negatividade, críticas e oposição. O resultado, dizia, era um universo unidimensional de idéias e comportamento, no qual as verdadeiras aptidões para o pensamento crítico eram anuladas.Marcuse viveu para assistir e sentir os efeitos do que teorizou: tinha 70 anos quando eclodiu a Revolução Inesperada, a grande revolta estudantil de 1968, em praticamente todos os países do mundo.Por sua capacidade de se engajar seriamente e apoiar os estudantes que protestavam contra a guerra do Vietnã (1961-1974) e queriam mudar a sociedade e a política, o filósofo logo ficou conhecido como o "pai da nova esquerda", qualificação que ele mesmo não aceitava.
(Marcus Moreira Machado)
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