Mesmo na 'meia-idade', eu ainda acredito nas fantasias do tipo "mocinho-bandido". Empaquei na adolescência. Imagino donzelas dependendo da minha bravura no combate a ferozes dragões e, de origem humilde mas valente, faço juras de amor e fidelidade, em arroubos de heroísmo quase pueril. Assim, um tanto aventureiro, eu sou cavaleiro medieval partindo em cruzadas contra a invasão de bárbaros. E de mim depende, 'efetivamente', a redenção dos povos sucumbidos à selvagem truculência dos imperialistas. Nos meus devaneios, eu construo um novo mundo, em que somente a minha justiça ditará o império do que me parece ser o bem. Sou honesto, belo, virtuoso... a ponto de, para não menosprezar opositores, eu me limitar a responder: "-Eu não vi nada". Por isso é que ainda serei ungido: lutei onde havia trevas; minhas cicatrizes são a minha credencial, o meu passaporte ao reino dos justos. Meus adversários (que nem isso são, já que sou o dono de toda e qualquer 'situação') pretendem a minha desgraça, e me injuriam. Não se dão conta, porém, de que os meus seguidores são em muito maior número e não contestam o meu comando (eles também sonham, deliram, tanto quanto eu mesmo). Hoje, elevado ao máximo cargo de representante da nação, nem militar de cinco estrelas é lembrado, contudo, é admirida aquela que foi estrela solitária do meu pavilhão vermelho. Vermelho como o sangue de Jesus Cristo, efetivamente.
Pouco fui à escola. Sempre fui menino precoce (até hoje, não abandonei esse garoto que mora no coração de cada um de nós todos). Esta a razão pela qual eu me basto: sou autodidata. Predestinado, nasci vocacionado para governar, já que a maioria nasceu limitada a me seguir. Líder, incontestavelmente, um líder! É o que eu sou. O homem da venda, o empresário do aço, o metalúrgico da foice e do martelo, o clérigo, o sacristão, todos eles me reconhecem um líder nato. Eu não preciso e nem devo trabalhar -que trabalhem os outros em meu lugar-, pois ocupado estou em organizar o trabalho de todo mundo. Sou por demais inteligente para me preocupar com mazelas do dia-a-dia; "mereço a comida que você paga pra mim". Quem mais teria tanto tempo e tamanha competência para discursar a seu favor? Hein?!
Aos que ainda relutam, àqueles recalcitrantes, insistentes em chafurdar o meu nome na lama, só respondo: vocês constataram, por duas vezes, que quem ri por último é porque não entendeu a piada. Eu tenho carisma, sabe disto a minha legião de discípulos espalhados pelos sem número de ministérios que criei. É só perguntar ao povão e ouvirão em uníssono: "hoje é o dia da caça, hoje é o dia da caça e do caçador. De que maneira poderia um brasileiro antes miserável (como, via de regra, é todo brasileiro) dizimar a penúria dos desvalidos, com o poder de reduzir a zero a fome nacional?! Não existiria mesmo explicação, não fosse a minha capacidade de tanto entender de fome, a ponto de, imitando Padim Ciço, miná-la, sob a inspiração da estrela guia, com pãezinhos. Porque nem só de caviar vive o homem, buchada e estrogonófre (assim mesmo, abrasileirado, como prefere um cabra porreta!) também fazem parte da vida. É verdade, scotch escocês não é má idéia, mas a cachacinha é pra render homenagem ao passado ultrapassado, efetivamente.
Mais que tudo, eu sou o quê este país sempre precisou, desde Palmares e Villares. Eu sou macho. Y hay que ser macho, pero no mucho!!!(Marcus Moreira Machado)
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