Liberdade e capacidade de pensar caem de nível progressivamente. As condições materiais a que estão submetidos os homens de nosso tempo reduzem-no a tal ponto que a sua vida psicológica se acha gravemente prejudicada, tanto quanto, mais e mais declina a sua capacidade de 'fazer' cultura. A 'luta pela vida', proveniente da insegurança do sistema econômico que torna difícil a sobrevivência, obriga as pessoas a se agregarem em número cada vez mais crescente em aglomerações de trabalho. O desligamento do ser humano daquilo que é o seu próprio chão constitui atentado e violência contra a liberdade e, daí, afronta à cultura. A contemporânea sofisticação da vida urbana -com todo o seu moderno sistema de produção- tirou do homem a ligação com a natureza, essecial à cultura. Os indivíduos não mais vivem como 'seres humanos integrais', mas apenas como trabalhadores. Produzem a própria desumanização.
Hoje, um fenômeno nos meios de comunicação torna-se bastante evidente, de efeitos lesivos ao desenvolvimento cultural, compreendida, aqui, a 'cultura' na sua acepção sociológica, ampla, pois. Nesse 'fenômeno' nota-se a ação reflexa que os indivíduos -já dispersivos e incapacitados à concentração- exercem sobre o seu próprio meio, sucumbindo à "lógica" da demanda, utilizados somente como 'clientes' sedentos de futilidades. Perdido o hábito de exercer a capacidade reflexiva e criativa, o homem constrói uma barreira em torno de si mesmo, impedindo a sua expansão enquanto 'ser'. E passa a viver com essa barreira.
Na impessoalidade do relacionamento humano, a primeira profunda consequência é a absoluta desumanização da vida.
Ora, sempre onde a coletividade exerce mais influência sobre o individual do que a pessoa sobre a comunidade, instala-se a decadência.
A premência de que possamos instituir uma nova visão de mundo, a partir de nós mesmos, se faz urgente e imperativa. Porque será dentro de cada um, exclusivamente, onde poderá surgir o sentido da própria existência. (Marcus Moreira Machado)
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