Em nenhum tempo os contrastes entre o rico e o pobre no mundo foram tão resolutos, tão violentos como atualmente. Economistas que afirmam, em obras "científicas", ser o pauperismo antigo tanto quanto a humanidade, socorrem-se de sofismas. Ora, há pobreza absoluta e pobreza relativa. A absoluta é a do homem que não pode satisfazer inteiramente suas necessidades reais; ou somente as satisfaz de maneira insuficiente, ou seja, aquelas originadas de suas funções vitais orgânicas. A pobreza relativa, pelo contrário, é a impossibilidade de satisfação de "carências" artificialmente criadas, que não são condições essenciais à vida e à saúde, e que o indivíduo não sente senão comparando o seu modo de vida com o de outros. Cada um julga-se pobre à sua maneira: o operário, se não pode fumar ou beber aguardente; a lojista, se não pode vestir-se de seda e cercar-se de uma mobília supérflua; o profissional liberal, se pela aquisição de um capital não pode libertar-se do cuidado inquietante de cautelar o futuro de seus filhos ou o descanso de seus últimos dias. Esta pobreza é relativa, no sentido, por exemplo, de a lojista parecer rica ao operário. Mas essa pobreza é também do próprio sujeito; é miséria na subjetividade, pois que reside na imaginação do indivíduo, não arrastando de forma alguma o enfraquecimento real das premissas indispensáveis à existência, e, por efeito, o definhamento do organismo. Não é miséria fisiológica.
A pobreza absoluta é inconciliável com a civilização que não ultrapassou ainda o ponto das necessidades físicas. Já a civilização de superior estágio, finalmente, condena numerosa multidão a essa pobreza absoluta, favorecendo segmentos, exclusivamente.
Neste quadro, nota-se o quão imperioso é ums renovação da organização econômica globalizada, disciplinando a posse a cada indivíduo .
Àquele a quem tal estado não é alvo ideal do desenvolvimento social, não há outra coisa a fazer senão contar com um outro princípio -a solidariedade. Da escolha dependerá a ruína ou o aprimoramento da organização total da sociedade. (Marcus Moreira Machado)
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