É sempre possível impor a um ser humano -desde a sua mais tenra infância- uma moral que impeça e reduza significativamente sua essência à plena realização. Bastará ensiná-lo a pensar nas condições de relacionamento físico, instintivo, sensual -do seu 'poder-existir'- como algo pecaminoso, que deverá ser reprimido a qualquer custo. Tal ser humano tornar-se-á "culpado" por "ocultar' vivências muito especiais do mundo. Ele se fechará ao chamado de múltiplos fenômenos, tendentes a assegurar-lhe o direito de um 'poder-surgir' na luz de sua existência.
Cada um de nós experimenta essa omissão através de sentimentos de culpa e remorsos dolorosos, que nos convocam a 'um tornar-se melhor' e a 'um tornar-se completo'. São sentimentos que se sobressaem quanto mais distantes estejam de fato na realização da vida.
Alguém assim limitado, só pode entender 'um tornar-se melhor' como 'um obedecer', cada vez mais rigoroso, a ordens e proibições estranhas à sua essência. Empreenderá todos os seus esforços em radicalmente negar as possibilidades que encontre, para não interpretá-las como o 'pecado' inominável. Efeito imediato, aumentará sua 'culpa humana', compreendida na 'realidade' admitida: paralisado, aquém da missão que sem efetiva percepção assumiu -a de guardião da "ordem", zelador da "harmonia".
Não é tarefa que demande intrincada construção, a de tornar um indivíduo cativo de si mesmo, por meio dos seus sentimentos de culpa distorcidos, desprovidos de autenticidade, pois impostos através de mentalidades alheias a ele próprio.
Trata-se de processo que gerando evidentes neuroses mutila o indivíduo, a fim de usurpar-lhe a essência, subjugando-o aos interesses de uma indeterminada coletividade.
É 'mecanismo' autônomo, que independe de sistemas de governo, livre de ideologias, mas ativado na latente predisposição de todos nós para a submissão.
(Marcus Moreira Machado)
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