Ao longo de mais de um século, nenhuma das consideradas 'grandes democracias' apresentou resultado de fato satisfatório à emancipação popular.
Elas sempre estiveram ameaçadas tanto por idéias quanto por homens diretamente hostis aos princípios constitucionais de respeito aos direitos naturais numa real civilização. Não apenas recolheram-se diante da ameça.Muitos dos seus dirigentes mostraram-se até convencidos diante das bravatas dos inimigos.
A rendição sem luta a indivíduos que confessadamente só querem conquistar o poder e mantê-lo a qualquer custo, isso tem sido habitual entre nós, em afronta contra a democracia enquanto, pode-se dizer, 'instituição política'.
Uma tendência costumeira tem sido a de "estadistas democáticos" em adotar duas atitudes. Por um lado insistindo com as massas sobre a necessidade de reconhecer limites para além dos quais princípios democráticos não "devem" passar. Por outra lado, a franqueza em admitirem, ainda que de forma subliminar, a sua admiração por realizações de dirigentes reconhecidamente fascistas (as relações entre Lula e Bush, por exemplo, sinalizam esse mau sintoma).
Seria possível notar uma sucessão imensa de 'ilustrações' do entusiasmo quase bajulador demonstrado por esse governantes.
Torna-se evidente que o ceticismo pela democracia tenha penetrado profundamente no interior das próprias democracias.
É ambiente político esse onde se revela a indispensabilidade de questionamento sobre a ignorância das massas, acerca da sua incapacidade para a tarefe de auto-governo. Reflexão necessária para afastarmos a popularidade dos argumentos de que a política é função de uma 'casta' de "notáveis".
O ceticismo pela democracia tem dois aspectos a merecerem decisiva divisão. Pelo lado'direito', o medo como principal motivo; pelo 'esquerdo', a forte suspeita de que os processos da democracia conduzem a reexame das bases econômicas da sociedade; e todos compreendendo com inquietação que isto poderia revelar uma incompatibilidade final entre democracia e capitalismo.
Agora, como sempre, procuramos menos descobrir as causas impessoais, e é concentrado o nosso esforço em encontrar um remédio fácil e parcial, que possa produzir, pelo menos por um breve tempo, o passageiro obscurecimento dos sintomas evidentes e mais dolorosos da "doença".
Deixamos, no entanto, de buscar resolução dos conflitos onde ela pode com efeito ser localizada: não vamos atrás de mais educação, melhor adaptada ao caráter de nosso tempo. Afinal, a maior parte da população não é atingida, de modo incisivo, pela nossa herança cultural. E, muitas vezes ostentando diplomas, segue pela vida sem consciência das forças que regem o seu destino, predispondo-se então a ser presa fácil de qualquer "remédio" -geralmente o mais apregoado, que com muita rapidez cai sobre muitos indivíduos, isolados ou em grupos, sempre que persuadida essa população de que a 'outros' deve atribuir seus males. Assim, essa grande parte não possui preparo sequer para articular sua próprias necessidades.
Esta é característica que absurdamente impera também no Brasil, desde tempos 'imemoriais', alternando ou mesclando-se populismo, assistencialismo e uma vaga "redenção" cunhada num débil esquerdismo.
(Marcus Moreira Machado)
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