Na 'revolta', a grande contribuição do pensamento está no campo das 'negações'. Em todos os seus aspectos, a 'filosofia revoltada' opera pela força humana da negação. Por isso a notável afirmação de que "a filosofia só é pelo nada e se nega pelo ser".
Se pretendermos uma filosofia que possa ser caminho de libertação, capaz de contribuir para a 'afirmação do humano', haveremos de concordar com o seu caráter negador. Há uma necessidade de luta para esta imposição, consistente em remover obstáculos.
Negar o que nega é pôr fim à afirmação, porque a única atividade positiva da capacidade do filósofo advém da negatividade do inicial filosofar.
Ao revoltado, afirmações serão vivências, as conquistas para a condição, jamais se mostrando como verdade recém nascidas em conclusões, ou definitivas. A verdade é expressiva, tem brilho. E fora do contexto existencial, só uma verdade: a negação.
A vida é o positivo; a norma de ação é o negativo. Por efeito, nada se impõe.
Ao contrário, toda injustiça revolucionária está no que possui de positivo. É feita então a negação para que vigore um sistema. A revolução vitoriosa, via de consequência, negará seus próprios princípios, a sua reivindicação de liberdade, assim que se institucionalizar. Deixará de ser a força negadora da opressão para ser exatamente a nova opressão.
Ora, não é desejo do revoltado esta perda.
O conceito de liberdade difere entre revolucionário e revoltado: a liberdade que reclama (para o revolucionário) é a que reivindica para todos; a liberdade que recusa (para o revoltado), recusa para todos . Porque a revolta não é sectária, não pertence a um grupo ou partido. A sua qualidade mais destacada é a de não encontrar uma realização histórica.
Manter a conquista, diversamente do revoltado, é típico do revolucionário, que não vê nisso o quê de fato é isso -a degeneração revolucionária. Já a revolta não se desintegra por nunca está satisfeita; luta contra uma condição miserável, mas não se realiza com essa sua ação, pois exige manter frequentes as suas fontes. É imperativo à revolta o 'não' de origem.
Na revolta, a oposição do movimento se faz no presente e para o presente. O 'negar' só tem sentido no 'agora'. Negar para afirmação futura será recair nas ideologias que só conhecem o terror como identidade.
O presente, como dimensão da revolta assinala o seu relativo. Construindo-se para o homem de agora, não cogita idealizar a plenitude desse homem. E por não conter nada de absoluto, a ação revoltada não abdica à luta. O revoltado, diferente do revolucionário, empenha-se, é ativo, partícipe da história. É dele a voz que se escuta quando falta ao homem o respeito que se lhe é devido. Pois, não se trata de luta individual, razão porque não se separa o protesto da revolta. É protesto, sim, sem, contudo, a doutrina afirmativa.
Em favor de um homem concreto é dirigida a luta do revoltado, considerando sempre a sua situação histórica, marcada pela continuidade.
A revolta é socialista?
Sim, mas de um socialismo que se mostra como conquista progressiva, num modelo de 'unidade na pluralidade'. É, enfim, o triunfo da diversidade de consciências que, unidas livremente, o fazem em favor de um 'não', mas de um 'sim' à vida e à felicidade!
(Marcus Moreira Machado)
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