Nem bem chegam à reunião os cinco amigos, e um deles, Darwin, conjectura: "-Neste mundo está sempre se processando a multiplicação ilimitada de criaturas vivas. Todavia, alimento e espaço habitável útil são limitados. O resultado: uma competição de vida ou morte entre todos os seres vivos, em eterna luta pela existência, pela qual vivem os que melhor se adaptam ao ambiente, condenados os outros à morte. Mas também o ambiente vai se modificando ao longo do tempo. O quê exige a modificação, igualmente, das criaturas viventes, isto é, esses seres evoluem, umas espécies das outras, para a sobrevivência às novas condições".
Ao que responde-lhe Marx: "- Mas há nessa evolução estreita correlação entre um movimento de idéias do ser humano e a realidade material da sua sociedade. E tal movimento é também produto de modificações, as que ocorrem na base material da sociedade, porque o movimento do pensamento não passa de um reflexo do real, já que é produto do cérebro humano, e este, por sua vez, um produto também da natureza."
Intervem Hegel, um tanto indignado com o quê se lhe afigura inaceitável -a observação de Marx-, tamanha apologia a visão estritamente materialista: "-Ora, é absurdo reduzir o pensamento a tal ponto. Afinal, é a idéia, o pensamento,o verdadeiro criador da realidade. E nela, o espiritual, o absoluto, são forças que, movendo-se por si mesmas, movimentam todo o universo".
Ouve-se um brado: "-Discordo!! -clama Merleau-Ponty- A minha existência é quem dirige e sustenta esse meio, pois sou eu quem faço ser para mim esta tradição que decidi retomar, ou este horizonte cuja distância de mim desabaria, pois que só pode me pertencer seu eu estiver lá para percorrê-la com o olhar. Eu não sou um momento do mundo! Não sejam hipócritas! É através da minha percepção, da minha consciência, que o mundo se dispõe à minha volta e então começa a existir para mim".
Jung, até então calado, mas muito atento ao embate, arremata a conversa: "- Perdoem-me a intromissão, mas eu acho que vocês todos possuem tantos recalques que nem percebem a imensa vontade de viver, presente em cada um de nós, e que se mostra facilmente em nossa libido.Isso é mais simples que instinto sexual. É viver, e não sobreviver!".
Calaram-se, todos.
Marcus Moreira Machado
Nenhum comentário:
Postar um comentário