Sempre haverá, entre alfabetizador e alfabetizando, a distância imposta pela escrita. Quem escreve e, particularmente, quem escreve há muito tempo, tem toda uma práxis de reflexão sobre a própria escrita, fortemente condicionada por segmentações que essa pressupõe, pela expectativa das estruturas prescritas, das formas “certas”, em termos absolutos.
Em outras palavras, crianças oriundas de famílias de classe social inferiorizada, nas quais a escrita não faz parte de seu cotidiano, sentir-se-ão desmotivadas durante o período de alfabetização, mediante a imposição da escola em fazê-las aprender a escrever. A importância do aprendizado para esses núcleos é superveniente à própria sobrevivência. Enquanto isso, nos segmentos habituados a ler jornais, revistas e livros, a arte de escrever já faz parte de seu meio social. Por esta razão, as crianças provenientes desse contexto não sentirão dificuldades, ou então tais transtornos serão bem menores. Embora a instituição de ensino reconheça as diferenças sócio-culturais como um dos fatores importantes do fracasso escolar, prossegue, indiferente, na prática de atividades pedagógicas centradas na complexidade da escrita. Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação. Não basta saber escrever, para escrever. É preciso ter um estímulo para isso. A escrita, seja ela qual for, tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura é uma interpretação da escrita, consistente em traduzir os seus símbolos em fala. Frequentemente, no ambiente escolar, é ignorada a capacidade infantil, e menosprezado o seu universo cultural. As adversidades da criança, erroneamente, estão centradas na pressuposta complexidade da linguagem escrita. Muitas são as restrições mal justificadas, desde a discriminação auditiva e visual até a coordenação motora. E, por isso, são gastos meses com exercícios de acondicionamento, antes de introduzir o aluno na escrita. O professor quase esquece que os conhecimentos da linguagem oral fazem parte do entendimento da linguagem escrita, algo assim próximo do registro da oralidade. Por tal distanciamento, impõe, com contumácia, uma rotina impeditiva ao desenvolvimento natural do pequeno aprendiz, ensinando o desenho das letras e a construção de palavras, mas não a linguagem escrita. A atuação do alfabetizando diante da escrita torna-se, como direta consequência, passiva. Afinal, nessa fase, se a prática pedagógica está voltada para cópias e ditado, bloqueando a intenção comunicativa, não poderia ser outro o resultado. O grave problema nesse caso é ensinar a escrever sem ensinar o que é escrever. (Caos Markus) |
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
TERÇA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2014: "O REGISTRO DA ORALIDADE"
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