LITERATURA, INFÂNCIA E INFANTILIZAÇÃO
Durante o século XIII, o processo de industrialização na Europa solidificou a classe burguesa, que passou a adquirir novos padrões sociais e culturais. A revolução industrial, política e econômica leva essa nova sociedade a incentivar a formação de instituições -família e escola- com a finalidade de ajudá-la a atingir seus objetivos.
Assim, a estabilidade familiar, na qual os membros assumem seus devidos papéis, cabendo ao pai o sustento familiar e à mãe organizar a vida doméstica, passou a beneficiar a criança, atribuindo-se-lhe um novo papel na sociedade, chamando todas as atenções para si.
Já a escola é convocada a participar e a colaborar na vida social da menoridade, voltando seus interesses para ela. Além de prepará- la para enfrentar o mundo exterior, fixa certa ordem social, tirando-a do trabalho forçado, devolvendo o lugar aos adultos até então desempregados. Inserida em um contexto social determinante na exigência dos seus direitos e na luta para adquirir um poder político e uma estabilidade econômica, a nova ordem social credita à criança um lugar especial.
A literatura destinada a este público irá receber a função de formação e informação, pela transmissão da ideologia promulgada por essa sociedade. Com efeito, os textos destinados à infância terão um teor didático e moralista, levando a criança a uma educação especial, diferenciada da dos adultos. Uma literatura infantil ligada, antes, a um caráter pedagógico, acima do literário, propriamente dito, visando endossar valores da classe burguesa, manifestando o modo como o adulto quer que a criança veja o mundo.
Em épocas de consolidação, a intencionalidade pedagógica domina, pois, a formação infantil, transmitindo-lhe valores passíveis de incorporação por um sistema social emergente. A proximidade da literatura popular e infantil se dá através da mentalidade primária de ambas, pois, a partir do sentimento interior predominante no povo e na criança, em relação ao mundo exterior, este é percebido pela emoção, a intuição, a sensibilidade e pelo pensamento mágico e não lógico.
Depois de ter apenas um caráter pedagógico e formador de uma moralidade, a literatura infantil constituiu-se alvo de discussões, ganhou um novo status: o de ser unicamente um meio de entretenimento, prazer e distração, por apresentar uma estética especial nos livros coloridos, com figuras, personagens mágicos ou não, aventuras e fantasias reportando a criança para além da realidade concreta.
Hoje, buscam-se novos valores atribuídos à literatura destinada à crianças: atraí-las através das histórias, proporcionando-lhes condições de reflexão e experiências, seja no plano real seja no imaginário, como subsídios ao enfrentamento dos problemas, almejando-se soluções que as auxiliem a se integrar no mundo ao seu redor, a partir da sua realização interior.
Tarefa aparentemente impossível, ante a co-participação infantil nos valores ainda burgueses, até intensificados pelos princípios da moralidade vigente na sociedade globalizada do capital internacionalizado. Princípios, ressalte-se, responsáveis, inclusive, pela infantilização de indivíduos adultos.
(Caos Markus)
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