A arte é uma função do organismo social, de enorme importância para a conservação e a evolução desse mesmo organismo.
Em matéria de ciência, entretanto, não basta a aparência de verdade. É preciso a certeza de um conhecimento claro dos fatos, só obtidos através de pesquisas demoradas e neutras.
Abordando-se os resultados alcançados pelos estudos sociológicos em matéria de arte, é forçoso reconhecê-los como muito pobres. O número de trabalhadores que se ocuparam do valor sociológico da arte é relativamente restrito. A negligência da arte por parte da ciência é consequência natural das tendências de nossa época devotada à arte medíocre, apesar de todos os museus, teatros, exposições e críticas.
Aos olhos da atual classe dirigente, a arte não passa de um jogo, digno, no máximo, de preencher uma hora de lazer; desprovida, porém, de qualquer valor para as tarefas sérias e essenciais da vida.
O estudo teórico da arte parece algo pouco mais que inútil exercício do espírito. Dedicar-se a semelhante estudo equivale a ocupar-se de do 'jogo-entretenimento', inapropriado a um "homem verdadeiro".
Se esse preconceito não fosse tão poderoso, a ciência da arte há muito teria revelado a sua fraqueza. Em verdade, não é fácil produzir essa prova, porque a arte está muito longe de ser simples fenômeno da 'vida social'.
A Sociologia, não obstante, tem realizado outras tarefas, tanto mais árduas ou difíceis, lutando contra preconceitos arraigados ao longo do tempo.
Se tem sido possível projetar-se alguma luz sobre a natureza e a evolução da religião, da moral e do direito, por que apresentam-se frequentemente obscuras a vida e a natureza da arte?
A ciência da arte se serve ainda de um método falso e não dispõe de materiais suficientes, é o que via de regra se conjectura.
Em todos os demais ramos da Sociologia, tem-se aprendido a começar do princípio. Antes de tudo, estudam-se as formas simples dos fenômenos sociais, e só depois de se haver compreendido bem a natureza e as condições dessas 'formas simples' é que se entra na explicação das 'formas mais complexas'.
Unicamente a ciência da arte percorre uma falsa rota. Todas as demais compreenderam o poderoso e indispensável auxílio da etnografia à ciência da civilização. Apenas a ciência da arte continua a menosprezar os toscos produtos dos povos primitivos, oferecidos-lhe pela etnografia. Seu exclusivismo aristocrático, ao contrário de diminuir, tem aumentado no decurso do tempo.
Talvez seja muito interessante para o grande público o domínio cultivado até agora pela ciência da arte. Mas, ainda está longe de ser fértil para a ciência. Ninguém exigirá que a ciência da arte renuncie ao estudo de suas formas mais elevadas e ricas. Ao contrário, esse é o seu maior objetivo.
Mas... não sabemos voar! Somos obrigados a escalar as alturas passo-a-passo, e a começar pela base. Uma ciência da arte que se ocupe dos ângulos monótonos e dos adornos simples dos povos selvagens, não pode despertar à primeira vista, em igual itensidade, o interesse geral provoacados por axiomas ousados e originais acerca da arte do presente e do futuro.
Eis uma compreensão equivalente a advertência, sujeita a desentendimento dissimulado, sim. Jamais, todavia, ao nível de absoluto esquecimento.
(Caos Markus)
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