Para Häckel eminente discípulo de Darwin, todas as diferenças que hoje distinguem entre si as espécies humanas são originadas de divergências adquiridas pela evolução já isolada de cada uma delas. Segundo a sua teoria, eram os homens ainda um esboço se dispersaram; após, isolados, teriam se desenvolvido em espécies distintas. A pluralidade de tipos lingüísticos será, nesse sentido, um incontroverso argumento da conformação da espécie humana diversificada, imediatamente em seguida à debandada.
Acatar a tese do antropólogo será admitir que a palavra "espécie" designa somente um momento de individualização mais evidente, para aceitar, enfim, o princípio da transformação evolutiva. E, muito embora não se saiba qual seja a determinante das mutações, certo é que o "crescer-reproduzir-morrer" leva à dessemelhança verificada entre gerações, definindo a "individualidade". Por conseqüência, o homem - e de resto cada espécie de coisa viva - está, continuamente, sucedendo-se em muitos novos indivíduos; e, desde que as condições se conservem as mesmas, em cada geração essa ou aquela espécie aprimoram a sua adaptação e essas condições.
A descontinuidade no progresso do ser humano, não obstante essas últimas considerações, não se resolve tão somente pela observação da sua variedade. Senão, como explicar que há vinte e quatro séculos os gregos possuíam um grau de civilização muito superior ao da atual população? Como entender que há apenas três séculos atrás os parisienses esvaziavam os seus vasos noturnos nas ruas, enquanto que há dezenove séculos passados Roma possuía um excelente serviço de esgoto?
O progresso humano, assim, não só lento, é também interrompido muitas vezes pela ignorância. Quatro ramos de parentes de uma única árvore genealógica racial, a superioridade ou a inferioridade de determinarmos grupos humanos devem-se exclusivamente à permuta de idéias e experiências no primeiro caso, e ao isolamento, no segundo. O encaminhamento, por exemplo, de muitos povos de partes diferentes do mundo para o vale do Rio Nilo, como passagem obrigatória nas viagens das raças primitivas de uma região para outra, sempre à procura de alimentos e abrigo, propiciou, pela concentração de grande massa humana, constituída por homens vindos de lugares tão frios como os das geleiras ou tão quentes como os do mar, um acréscimo às idéias individuais, pela troca de hábitos diferentes em culturas distintas.
Da mesma forma como a superação da barbárie pelo advento da pré-civilização se operou através da incessante aproximação dos povos, e assim sucessivamente, o processo humano tem sido retardado pelos membros mais ambiciosos da família humana que, inconscientes, supostamente promovendo a modificação e a diferenciação das espécies, em processo de seleção natural. atrasa em milhares de anos o processo civilizatório, pelo confinamento oriundo de sucessivas guerras.
A desintegração e o conflito têm, ao que parece, acompanhado o processo das modificações fundamentais dos períodos revolucionários da raça humana. Reconhecer e preparar-se para advento de uma nova época, evitando a análise superficial, pela adoção de critérios de identificação das causas mais profundas e impessoais, será não escolher a alternativa mais pobre de resistir às mudanças.
Como a maior parte da população não herda a cultura conseqüente do acúmulo das experiências da civilização humana, impõe-se o reconhecimento dos malefícios causados pela ignorância, como percepção de uma nova educação norteada para a compreensão da atualidade. O desprezo por essa educação significará perpetuar a ignorância, já considerada como endêmica em nossa civilização.(Marcus Moreira Machado)
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