Sem critério algum, insistimos em voltar à sucessão de episódios que, bem sabemos, só fizeram difundir a negação da supremacia humana na terra. Essa insustentável leveza do ser já foi comparada à fragilidade da própria História, que "é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma", na observação de Milan Kundera.
A cada novo instante, mais submissos todos estamos, em severa subordinação à nossa surpreendente insignificância diante daquela que, ainda hoje, se nos apresenta incompreensível: a mente humana. Buscando reduzir o assombro, projetamo-nos como deuses onipotentes, onipresentes e oniscientes, não percebendo que "todo querer não é outra coisa que uma procura de compensação, que um esforço visando sufocar o sentimento de inferioridade". E a sombra dessa projeção indica, nada mais, nada menos que o nosso reduzido tamanho e a nossa incapacidade para uma reflexão mais séria sobre a existência da humanidade e o seu destino a partir do livre arbítrio e suas nefastas consequências.
Definitivamente, não somos felizes. Por que!? Talvez porque, como na assertiva, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Com uma necessária ressalva: não entendemos abolutamente nada de "coração". O que vale dizer: conhecemos o sistema solar, a Via-Láctea, exploramos agora o solo de Marte... Mas, absurdamente, o 'universo interior' de cada um de nós é enigma jamais decifrado.
Oportuna, enfim, a advertência: "As pessoas que mais temem a morte são sempre as mesmas que mais têm medo da vida, pois é sempre o viver da vida que desgasta e põe em perigo o estar-aí".
Sem vocação para a paz, o homem contemporâneo quedou-se ao silêncio da omissão -um desventurado procurando a felicidade no desmesurado consumismo em que fez o seu inviolável refúgio. Inapto à vida plena, seu suicídio ocorre de forma lenta e gradual, através de um vago mecanismo de defesa, consistente na recusa sistemática daquilo que lhe é essencial, o amor, que, no mais amplo sentido, deveria nortear a sua breve passagem pelo mundo.Regredir é, pois, a conduta dos que temem a si próprios, de tantos quantos renunciam à vida em seu próprio nome. (Marcus Moreira Machado)
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