Já no terceiro milênio e o retorno ao passado, no que ele representou de mais conservador, parece ser a meta de um futuro próximo. Retroceder ao tempo de um Estado soberano -formal e essencialmente burocrático- onde 'nação' é mero pretexto e nunca sincero propósito, tem sido habitualidade, contemporaneamente. No dizer de Boss, "a verdadeira, a grande bomba atômica já estourou séculos atrás; falamos daquela bomba atômica espiritual, a qual começou a atomizar e pulverizar nosso mundo, quando as ciências naturais-analíticas declararam as coisas de nossa terra e de nosso céu um simples acúmulo de massas moleculares e de movimentos ondulatórios; e assim as destruiram como coisas que eram até então".
Ao passo em que os avanços da tecnologia moderna deveriam propiciar um progresso generalizado e extensivo à toda população do planeta, exatamente o contrário é o que se verifica desde a expansão econômica advinda com a Revolução Industrial, demonstrando ser expressão da verdade o argumento de que os meios pelo homem criados para aumentar seu bem-estar, notadamente os que lhe dão mais força ou segurança, são naturalmente aqueles que ele vai utilizar para se fazer mais forte na guerra, a fim de dominar ou tentar dominar os outros. Com efeito, é justamente quando o aparato das ciências aplicadas atinge o seu maior estágio que então a humanidade se percebe totalmente desprotegida, vítima da miséria e da violência, próxima à aniquilação dos indivíduos uns aos outros, não mais exclusivamente em confrontos intenacionais, porém, até no seio das famílias (como outrora, num cenário em que a consanguinidade não era limite para o assassínio entre parentes).
O homem, de tanto acreditar no que era capaz de fazer, muito pouco realmente fez de bom a si mesmo, esquecendo-se de sua indispensável integração à natureza, a mesma que, paulatinamente, vem degradando. Marcados pela avareza (sinal típico de pretensa modernidade), deveríamos ouvir do pretérito o quê de melhor ele teve. Neste sentido, vale recordar a advertência de Dante Alighieri: "Eles se hão de combater na eternidade/Ressurgindo, uns terão as mãos fechadas/Os outros de cabelo pouquidade/Por dar mal, por mal ter viram cerradas/Do céu as portas; penam nesta lida/Com mágoas, que não podem ser contadas".
Não foram proféticas as palavras do autor de "A Comédia" (mais tarde chamada de "divina"). Antes, 'auscultaram' os 'ruídos' latentes na humanidade, reveladores da sua tragicomédia. (Marcus Moreira Machado)
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