A nossa História terminou. Zoologicamente, constituímos uma família, a primeira na ordem dos primatas, e também na classe dos mamíferos. Mas essa família divide-se em grupos, onde a observação encontra diferenças maiores para isolarem as variedades, no objetivo de dar origem ao que se chama 'espécies'. Desde que se admita o princípio da transformação evolutiva, a expressão "espécie" designa um momento de 'individualização' relativa mais pronunciada, e não um tipo absoluto, imutavelmente constante. Assim, é permitido reconhecer entre os homens diferenças tão graves como as que dividem outras espécies.
As divergências irredutíveis dos mais característicos 'tipos' de homens possibilitam a existência de um 'homem intermediário', sem fala, sem pensamento.
Quando os seres humanos se dispersaram, eram somente um esboço que, posteriormente, se desdobrou em espécies dissemelhantes. Se não tivesse ocorrido dessa maneira, seria impossível localizar na sua multiplicidade 'diferenças' tão profundas, a admitirem tal divisão, essa pluralidade.
A irredutibilidade das várias expressões linguísticas é um argumento capital em favor da dispersão precedente à conformação definitiva dessa diversificação da humanidade.
Desde que a palavra "espécie" perdeu o valor metafísico que possuía; desde que, por outro lado, esse transformismo imprimiu ao homem ascendência natural, surgiu a questão de se determinar o número exato das atuais 'espécies humanas'. Formados os primitivos 'tipos' humanos dotados de fala, cada um se dividirá em variedades, denominadas "raças históricas", para cuja formação concorrem, além da ação do clima (afora os cruzamentos), as próprias instituições e os acasos e condições da existência individualizada. Cada uma dessas raças subdivide-se, por seu turno, em agrupamentos chamados de "povos", a que frequentemente corresponde uma organização politicamente autônoma, dando origem às nacionalidades.
Inquestionavelmente, a maior ou a menor capacidade intelectual das raças é consequência do grau de sua 'civilização'. Pois a partir do momento em que se consideram formadas as primeiras raças humanas, a vida posterior da humanidade é norteada por motivos sociais predominantes sobre os naturais.
Considerados estes parâmetros, é de se perguntar: o povo brasileiro já detém uma linguagem própria a lhe permitir as criações racionais? O povo brasileiro possui o princípio ativo e iminente da existência das sociedades cultas? Ou, será, ainda está a situar-se em fase intermediária, na ressonância das vozes do passado?
Respostas a essas indagações seria determinar se o povo brasileiro já percorreu o longo itinerário -em sucessivas manifestações- do 'movimento' até a 'fala', e, desta, ao pensamento articulado.(Marcus Moreira Machado)
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