No meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho. Para falar a verdade, era tanta pedra no meio do caminho, que Arquimedes, não suportando os obstáculos, munido de um pedaço de pau, bradou:"-Dê-me uma alavanca e eu removerei o mundo!". Inconformado, Atlas revidou, dizendo que o mundo já tinha dono; e nem mesmo Galileu -com a sua tese anarquista da Terra redonda- estava autorizado a alterar a situação. Entretanto, a humanidade, insistente, construiu altíssima torre-Babel, incapaz de aceitar prepotência maior que a sua própria. Dada a pequenez de raciocínio, não elaborou sequer um cronograma da obra, logo embargada pelos poderes constituídos. E séculos se passaram, sob a influência de rígida mas ignorada lei -a etimologia. Naturalmente, a semântica adotou novas expressões vocabulares; e quando o carpinteiro pedia a lima, o servente disparava ao pomar, procurando laranja.
Em Sodoma e Gomorra, o povo, já desacreditado, partiu para a baderna, promovendo saraus aos som de lundus, onde Baco demonstrava a arte de bem viver."Para que preocupações?" -perguntavam uns aos outros. "Estamos aqui de passagem!".
Milênios mais tarde (já assistira Nero ao imprudente incêndio do Coliseu; Calígula, incestuoso, transara com a irmã; os pagãos foram batizados; e o Brasil descoberto, finalmente), Jung alardeava o inconsciente coletivo nos arquétipos da trajetória humana.
Por não se indignar com a idéia de que cada homem guarda em si um 'australoptecus', ou mais ainda, um 'cro-magnon', os militares neanderthais, em ordem unida, amotinaram-se, decretando intervenção nas pesquisas genéticas, e assim confiscando os cromossomas da América Latina.
Vocês ainda perguntam se o povo não reagiu? Claro que não! Pois ninguém se achava povo. Pelo mundo afora, um dizia que a culpa era do outro, quer dizer, Babeuf e Calabar (tanto faz) -ingênuos e revoltados- portavam deformações que somente a frenologia poderia explicar.
Nostradamus, quieto em seu canto, ria muito; ria dos gafanhotos que, só ele sabia, seriam os mal rascunhados helicópteros de Leonardo, a bombardear Napalm no Camboja.
Desentendidos, os intelectuais de esquerda necessitavam de um bode expiatório para a malfadada revolução bolchevique; e ao mesmo tempo que acusavam o papa de besta, convocavam Camus, o único a se entender bem com "O Estrangeiro".
Na Baía dos Porcos, Ana de Amsterdam apagava charutos cubanos nas coxas, ao passo que os japoneses -em quimonos camuflados de black-tie, bebiam o pontual e germânico chá das cinco, rindo, rindo muito de Pearl Harbor .
O progresso sempre parece maior do que realmente é", advertia um proletário no Pentágono, por ocasião da perplexidade de Neil Armstrong, já quase babando "-A Terra é azul!". O astronauta nem sequer percebera Cubatão, entusiasmado que estava com a insustentável leveza do ser na Lua sem gravidade. E o vento levou, levou suas palavras aos 'quatro' quadrantes do espaço sideral. A artudida voz foi ressonar num enigmático e insólito monolito. Mesmo chamado às pressas Stannley Kubrick, a pedra insistia na emissão de incríveis sons, obrigando Spielberg a um imediato contato de terceiro grau, em meio à guerra civil angolana e ao narcotráfico internacional. Mas que nada! O monolito só sabia repetir: "No meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho".
Cadê Arquimedes?! Onde se meteu aquele alquimista de uma figa?!! Estaria ele metido com o rei Hiero, convencido do incalculável poder da sua alavanca!? Em momento tão importante, perder tempo com protocolo de intenções! Ora, bolas!!
E agora, José? O que fazer com as pedras, se nem preciosas elas são?
'Uma rosa é uma rosa é uma rosa'. E uma pedra é uma pedra é uma pedra.
Seria mais suave se no meio do caminho houvesse uma rosa, sim. E uma enorme flor a desabrochar dentro do peito, para a gente poder dizer de peito cheio que o coração tem razões que a própria razão desconhece.(Marcus Moreira Machado)
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