Segundo Platão, a alma, que emana das esferas superiores, se localiza na matéria a fim de impor-lhe a lei da razão. Entretanto, no atual estágio do mundo a alma platônica, em vez de se mostrar consciente do seu destino e da sua superior origem, se deixou de tal modo se impregnar pelas inclinações e incitações da vida dos sentidos que o 'eu' físico a absorveu, submetendo-a integralmente às suas inferiores exigências.
O homem chama 'razão' a força central do ser individual, mas, no dizer de "Mefistófeles", o ser humano só dela se serve para se revelar ainda mais bestial que a fera.
A 'força' política e a 'vontade de poder' têm hoje se desenvolvido com o exclusivo propósito de regulamentar um gigantesco mecanismo de monstruosa covardia, através do egoísmo como norma de conduta. Não se respeita um só direito individual, desses que, influindo como verdadeiras energias morais criadoras, deveriam se projetar no meio social como elementos de equilíbrio do conjunto, representando o papel de agentes do refinamento das condições de vida coletiva. O que se vê imperar é o princípio do isolamento, deslocado do todo, longe de agir como fator de vínculo coletivo, de unidade superior. A satisfação dos apetites de vingança entrega, assim, homens públicos aos instintos de luta brutal, verdadeiros espartanos. Descortina-se um espetáculo de dilaceramento de paixões, insufladas e atiçadas umas contra as outras.
No plano dessa terrível 'força' de diferenciação -que cada um de nós traz dentro de si, como o irredutível do nosso egocentrismo- é chamado a operar o homem de Estado. Todavia, empreendimentos de ordem política não se realizam com o concurso de índoles vulgares, de aventureiros subjugados a imediatas ambições.
A política exige, sim, do indivíduo que a serve a responsabilidade do poder-dever, livre da besta-fera, através da renúncia a bens e vantagens pessoais, como salvaguarda da existência humana condizente com os objetivos da sua criação.(Marcus Moreira Machado)
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