A doutrina fundamental de Gautama é clara, simples e em íntima harmonia com as idéias contemporâneas. É indiscutivelmente a conquista de uma das mais profícuas inteligências de todos os tempos.
Há pontos capitais no seu discurso que consubstanciam a essência de seu sistema. Todas as misérias e descontentamentos da vida, ele os vincula ao egoísmo insaciável. O sofrimento, ensina Gautama, é efeito da ambição do indivíduo ao tormento do desejo imoderado. Enquanto um homem não vence toda espécie de ambição pessoal, a sua vida é pertubação e, o seu fim, tristeza. Existem três formas principais que assumem as ambições da vida, todas elas más. A primeira é o desejo de satisfazer os sentidos, a sensualidade. A segunda é o desejo de pessoal imortalidade. A terceira é o desejo de prosperidade, o mundanismo. Tudo isso deve ser vencido -quer dizer, o homem deve deixar de viver para si mesmo- a fim de que a vida seja serena. E quando forem vencidos e não mais governarem a vida de cada um de nós, quando o pronome da primeira pessoa desaparecer dos nossos pensamentos íntimos, então atingiremos a mais alta sabedoria -a serenidade da alma, ou, o "Nirvana".
Ora, o "Nirvana" não significava, como ainda se pensa, equivocadamente, extinção e aniquilamento, senão dos fúteis objetivos pessoais que tornam, inevitavelmente, a vida mesquinha, lastimável.
Em Gautama, a mais completa análise do problema da paz da alma. Toda filosofia nos avisa e nos ensina que devemos nos perder a nós mesmos em qualquer coisa maior que nós próprios. "Todo aquele que salvar a sua vida, perder-la-á": é, com exatidão, a mesma lição.
Não há nem ordem social, nem segurança, nem paz ou felicidade, nem justiça, a não ser que os homens se percam a si mesmos no que é maior que eles mesmos.
Esquecer-se de si mesmo é escapar da prisão.(Marcus Moreira Machado)
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